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Os prós e contras da utilização da modalidade do dropshipping

Por: Ângelo Vicente

CEO e Fundador da SELIA Fullcommerce Powered by Luft

Mestre em Ciências e Gestão de Tecnologia, pelo MIT Sloan School of Management (2023). Fundador da e-Cadeiras e da SELIA Fullcommerce, onde exerce o cargo de CEO atualmente. Com uma trajetória de mais de 12 anos no setor de comércio eletrônico, Ângelo é movido pela paixão em explorar o potencial de novas tecnologias, sempre com o objetivo de agregar valor significativo para seus clientes e parceiros. Além de seu papel na SELIA, ele é uma figura proeminente no cenário de E-Commerce, onde contribui ativamente para a comunidade do setor, participando como articulista, conferencista, professor e palestrante em diversas instituições de ensino e eventos. É membro do Conselho do E-Commerce Brasil e Cofundador da Escola Superior de E-commerce - ESECOM.

O que é o dropshipping?

A modalidade do dropshipping consiste em receber pedidos de seus clientes e encaminhar estas ordens de compra ao seu fornecedor, que cuidará do envio dos produtos para os seus clientes em nome da empresa. Dessa forma, o contratante desta modalidade atua como intermediário (no caso, o e-commerce) e não precisa manipular ou ter acesso ao produto.

O dropshipping pode acontecer nacionalmente ou internacionalmente. Neste artigo vamos tratar sobre o dropshipping nacional. Na figura abaixo segue um fluxo operacional ilustrando a relação entre fornecedor, cliente e a loja virtual como intermediadora no processo transacional. Para isso, vamos entender os 4 passos básicos do processo de dropshipping.

1 – Os e-commerces (vendedores) importam as listas de produtos dos fornecedores parceiros (geralmente fábricas ou distribuidores)

A avaliação inicial sobre o modelo de dropshipping se baseia em um relacionamento transparente e via de regra contratual entre vendedores e fornecedores (fábricas ou distribuidores). Os e-commerces selecionam os tipos de produtos que serão comercializados através da prospecção de fornecedores. Em seguida, os fornecedores são qualificados para atender as necessidades de consumo dos clientes do e-commerce.

Geralmente, os pontos de atenção se restringem à localidade e ao sortimento. A localidade é um fator que interfere na precificação do item para e-commerce (EC 87), bem como na disponibilidade da malha logística (possibilidade de entregas por região do Brasil). O sortimento está relacionado a estratégia da marca.

2 – O cliente realiza os pedidos na plataforma de e-commerce

O dropshipping é um modelo de intermediação logística seguido de faturamento. O e-commerce atrai clientes através de ações de marketing e gerencia as vendas através de uma loja funcional e intuitiva. Além disso, disponibiliza canais de atendimento ao cliente de forma eficiente (geralmente: email, chat e telefone).

O cliente não tem conhecimento do dropshipping, pois é uma prática acordada entre o e-commerce e seus fornecedores sem alterar as etapas da experiência de compra online.

3 – O e-commerce envia as ordens de compra do cliente para que o fornecedor possa faturar os pedidos

Uma vez que um pedido é realizado através do dropshipping, o e-commerce busca a aprovação de pagamento. Se aprovado, encaminha a ordem de compra para os fornecedores. O fornecedor então fatura contra os clientes.

4 – Os fornecedores realizam as entregas aos clientes cujos pedidos foram capturados pelo e-commerce

Os fornecedores serão responsáveis pelas entregas, incluindo desde a embalagem até o transporte de última milha. Nesta etapa, é crucial o envio dos códigos de rastreio das transportadoras para que o e-commerce disponibilize aos seus clientes o status do pedido atualizado até que a entrega seja efetivada. Geralmente, é esperado que o fluxo obedeça 5 estágios na loja virtual, conforme abaixo:

  • Pedido aprovado (Plataforma);
  • Pagamento aprovado (ERP);
  • Em separação (WMS);
  • Despachado (a partir deste status entra o TMS);
  • Entregue (TMS).

Neste momento, o cliente toma conhecimento que comprou em uma loja virtual e recebeu a Nota Fiscal de outra empresa. Isso pode ser uma operação de dropshipping se o site utilizado não for um marketplace.

Vantagens

O baixo custo é uma das características mais atrativas do dropshipping. O fato de não contar com uma loja física ou virtual, que implica altos custos fixos (aluguel, empregados, seguros e inventário), os fornecedores podem vender seus produtos através de websites parceiros que cuidam da etapa online junto aos clientes.

No caso dos lojistas online, a operação logística e o transporte de última milha ocorrendo em um único canal (fornecedor ou distribuidor), facilita na obtenção das informações de rastreio, bem como na terceirização do faturamento que passa a ser de responsabilidade do fornecedor.

É mais simples de se gerenciar, uma vez que a loja virtual não administra o estoque físico, um dos aspectos que promovem maior economia operacional para a loja virtual. As etapas de armazenagem, separação, embalagem, expedição e rastreio passam a ser do fornecedor, o que tem reduções nos custos com pessoas sob a ótica do e-commerce.

O benefício do lado do fornecedor fica na captura dos dados deste cliente, o que pode significar um amplo campo de atuação para o atendimento da demanda no varejo.

A flexibilidade deste modelo é outro grande benefício. Com o dropshipping, o lojista online não está ancorado em nenhum local (não tem necessidade de abrir domicílios fiscais ou filiais). É possível vender praticamente qualquer produto de qualquer lugar e poder escalar o negócio sem se preocupar com a operação logística. Isso desde que seja uma relação transparente e ganha-ganha com seus fornecedores.

Desvantagens

Enquanto o modelo de dropshipping apresenta um baixo custo de aquisição, que é sua principal atratividade, este modelo se apropria de uma margem de lucro bastante reduzida para ambas partes (fornecedor e e-commerce). O e-commerce muitas vezes compete com outras lojas virtuais que utilizam o mesmo portfólio de produtos. O diferencial migra para os serviços que cada lojista virtual oferece aos seus consumidores.

No caso dos fornecedores, existe uma adaptação no fracionamento dos pedidos, no qual antes os volumes tinham uma complexidade corporativa (B2B).

O fornecimento e envio dos produtos podem se tornar um problema dependendo da localidade e disponibilidade do item. No caso de ruptura de um item por exemplo, se não houver integração sistêmica entre o WMS/ERP do fornecedor e do e-commerce, as informações podem onerar o processo de atendimento ao cliente. Isso pode culminar em notificações e resoluções jurídicas para reverter não conformidades.

Outro ponto crítico de integração é o TMS das transportadoras dos fornecedores, que muitas vezes não apresentam ferramentas que disponibilizem o status das entregas em tempo real às plataformas de e-commerce. Assim, os problemas nas redes sociais crescem por falta de acesso no atendimento.

Uma das maiores desvantagens do dropshipping se resume a ausência de controle em função da inexistência de integrações tecnológicas entre fornecedores e lojistas virtuais. As fábricas detentoras dos produtos e responsáveis pelos envios, precisam cuidar do picking, packing e expedição de pedidos fracionados.

Caso existam níveis de serviços que não estejam definidos em qualquer das etapas anteriores, os clientes podem receber produtos com peças faltantes, produtos danificados e neste caso o contrato entre o fornecedor e o lojista virtual deverá explicitar as responsabilidades de cada parte com objetivo de reverter conflitos com os clientes. Uma das formas de resolver estes impasses é conectando as informações da fábrica com os e-commerces através de API’s.

Considerações importantes no caso da escolha pelo dropshipping

A chave para encontrar uma boa solução de dropshipping é fazer um processo de diligência para qualificação dos fornecedores. Entre os principais pontos de checagem, vale ressaltar os tempos de processamento do pedido, picking, packing e separação (Variáveis da Operação Logística – OPL). Além de considerar os níveis de serviços (SLA’s) das transportadoras que trabalham com as fábricas que irão promover as entregas aos clientes.

É altamente recomendado entrar em contato com a empresa (geralmente uma fábrica ou distribuidor) que adota esta modalidade e falar com um representante para assegurar que todas as dúvidas sobre a operação logística estejam detalhadas e com níveis de serviço acordados para cada etapa.

Uma alternativa que pode enriquecer a experiência é realizar um piloto com alguns pedidos em e-commerces que já operam com esta modalidade e acompanhar todos os passos da aprovação do pagamento até a chegada do pedido via dropshipping. Na sequência, construir uma análise SWOT de alguns e-commerces para buscar alavancar as oportunidades de mitigar os riscos.

Seguem alguns sites referência que praticam essa modalidade: Milanoo.com, LightInTheBox.com, DHgate, e AliExpress em âmbito internacional. Domesticamente, é possível checar diretamente com o fornecedor que pratica esta metodologia com cada segmento de atuação (vestuário, móveis, alimentos, automotivo, etc).

Como evitar algumas barreiras na contratação do dropshipping?

Caso um cliente tenha necessidade de trocar ou devolver o seu produto, o processo de retorno e/ou estorno também fica por conta do fornecedor. O cliente entra em contato com o e-commerce, que faz a ponte com o fornecedor para garantir que a insatisfação seja documentada e resolvida.

É bom deixar claro que, em todo processo dropshipping, o fornecedor é invisível para o consumidor (cliente final). Para ele, desde o momento da compra até o recebimento do produto, só existe loja virtual na qual o cliente comprou. Por isso, é extremamente importante encontrar parceiros comprometidos, que compactuam com as políticas do site. Entre elas as de frete, privacidade, troca e devolução, estorno, etc.