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Os consumidores invisíveis para o e-commerce

Por: Gustavo Artuzo

Gustavo Artuzo é o diretor executivo da Clique Retire, empresa inovadora de logística para o e-commerce. Antes disso, foi diretor de desenvolvimento de negócios no fundo de private equity Patria Investimentos, além de CFO na Delly’s, empresa líder em distribuição para food service. Tem também experiências relevantes no setor de real estate, atuando na Cyrela, Direcional Engenharia e Cury Construtora. Gustavo é engenheiro formado pelo ITA, com MBA pela Wharton School.

São 13 milhões de pessoas no país que movimentam quase R$ 120 bilhões por ano, um volume de renda maior que 20 das 27 unidades da federação — dados da pesquisa “Economia das Favelas – Renda e Consumo nas Favelas Brasileiras”, feita pelos institutos Data Favela e Locomotiva. Entre os adultos moradores de favelas brasileiras, 87% acessam a internet pelo menos uma vez por semana, e mais de 97% dos jovens acessam regularmente.

A favela está conectada e compra, cada vez mais, pelo e-commerce: 39% dos moradores, segundo a pesquisa. Entre os dados mais importantes dessa tabulação está o de que 1/3 dos consumidores que usam o comércio eletrônico nas comunidades populares não consegue receber seus produtos em casa, devido, principalmente, à escalada da criminalidade. E aí chegamos no ponto dessa reflexão.

Os invisíveis para o e-commerce.

Créditos: Fernanda Vidoti

É preciso reconhecer mais uma exclusão social a que essas pessoas estão submetidas. Apenas para termos uma ideia mais exata da realidade nas duas principais capitais do país, 43,6% do total de endereços no Rio de Janeiro tinha algum tipo de restrição para entregas de produtos em 2018, assim como 29% dos CEPs da cidade de São Paulo (levantamento realizado com base no sistema de informação dos Correios, pelo jornal Folha de São Paulo).

Se o produto não chega à favela, a favela que consome (e muito) tem que ir buscá-lo. Mas e os custos de locomoção e o tempo já curto de muitos trabalhadores que enfrentam horas a fio no transporte público para ir e voltar do trabalho? Quando uma encomenda chega numa agência dos Correios para retirada, muitas vezes longe da residência do morador de comunidade, ainda há as filas. Ou seja, é preciso ter muita vontade para continuar comprando pelo e-commerce.

Infelizmente, vários desses consumidores acabam desistindo devido ao gargalo logístico na última milha, ou pelo menos desistiam no Rio de Janeiro e São Paulo até o início de 2020, quando serviços de armários inteligentes começaram a pipocar no país como solução logística para ajudar na sobrevivência do varejo físico e do e-commerce em tempos de pandemia.

A empresa Clique Retire realizou uma pesquisa interna entre os usuários do seu serviço de e-Boxes (como chama os smart lockers em referência às antigas caixas postais) no Rio de Janeiro e São Paulo. A maioria absoluta dos consumidores que optou pelo serviço é de moradores de áreas não atendidas pelas empresas de entregas e muitos estavam a ponto de desistir, ou já haviam desistido de comprar pela internet. Até que descobriram os e-Boxes nas estações do metrô de ambas as capitais.

consumidores invisíveis para o e-commerce clique retire no metrô.

Créditos: Fernanda Vidoti

Pandemia, necessidade e oportunidade

Em 2020, devido à pandemia do novo coronavírus, 7,3 milhões de novos consumidores aderiram às compras pela internet e 150 mil novas lojas online ingressaram na economia. É um caminho sem volta. E, como bem pontuou o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, é preciso, de uma vez por todas, quebrar preconceitos que afastem as empresas do desenvolvimento de negócios para essa parcela importante da população. E nós sabemos que, além de uma atitude socialmente solidária, ela é lucrativa.

A população das comunidades populares não pode esperar o problema da segurança pública ser solucionado. Enquanto isso, os armários inteligentes promovem inclusão.

Afinal, são essas pessoas que mais precisam se beneficiar dos preços até 30% mais baixos do que os praticados nas lojas físicas. Moradores que não contam com porteiros em seus prédios ou não têm quem receba em horário comercial também são importantes para o e-commerce. Todos são.

Que sejam bem-vindas todas as novas soluções logísticas que facilitam a vida do consumidor e permitem a recuperação da economia nessa pós-pandemia.