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Open banking no Brasil: qual será o impacto nos e-commerces?

Por: Rafael Lavezzo

Com atuação nas áreas de Operações, Vendas e Desenvolvimento de Negócios, tem sua carreira construída no setor de tecnologia e serviços financeiros. Passou por empresas como IBM, Cielo e, mais recentemente, participou da construção da operação da WorldPay no Brasil e América Latina. Administrador formado pela PUC de Campinas/SP, possui MBA na Fundação Getúlio Vargas. Atualmente atua como Chief Revenue Officer (CRO) na Zoop.

Previsto para iniciar sua operação em novembro deste ano, com implementação total até outubro de 2021, o open banking é uma iniciativa criada pelo Banco Central (Bacen). Ele tem por objetivo promover o compartilhamento de informações bancárias entre diferentes instituições financeiras.

O sistema financeiro aberto parte do princípio que o cliente é o dono de seus dados pessoais e históricos bancários, não o banco (ou os bancos) com o qual mantém relacionamento.

Sendo assim, mediante sua prévia autorização, o open banking vai permitir que os usuários dos serviços financeiros possam compartilhar suas informações com bancos, fintechs ou qualquer outra empresa de soluções financeiras que quiser, a qualquer tempo.

Entre os benefícios para esses clientes está a oferta de soluções menos burocráticas, mais rápidas e acessíveis, bem como mais personalizadas e adequadas às suas necessidades.

Já para os players participantes do open banking, podemos evidenciar a oportunidade de captar novos clientes, bem como a de criarem produtos e serviços mais pontuais para as dores do seu público, se destacando, assim, no mercado.

O open banking no e-commerce

No entanto, quando falamos em e-commerces — ou seja, de um tipo de negócio que não tem participação direta no setor financeiro —, quais vantagens o open banking pode trazer? Quanto e como esse segmento será impactado por sua implementação?

O fato é que esse sistema de compartilhamento de informações abre espaço para criação de diversos novos produtos e soluções, independentemente do ramo de atuação da empresa.

No entanto, o primeiro passo para que o comércio online também usufrua dos benefícios do open banking é fechando parceria com as instituições financeiras participantes. Mas como isso seria possível?

Neste artigo você vai ver:

  • Em quais pontos o open banking vai impactar os e-commerces?
  • O que é preciso para os e-commerces se beneficiarem com o open banking?
  • Como está o processo de implementação do open banking no Brasil e no mundo?
  • O que as instituições financeiras e seus clientes podem esperar do open banking?
  • Quais outros benefícios podem ser obtidos com o open banking?

Em quais pontos o open banking vai impactar os e-commerces?

A partir do momento em que o open banking estiver operando, abrirá um grande leque de oportunidades para os players participantes e seus parceiros.

Entre outras vantagens, para as empresas atuantes no mercado financeiro, a iniciativa do Banco Central vai aumentar seu poder de competitividade.

Isso é possível, pois, uma vez que o sistema financeiro aberto dá acesso a informações mais completas e detalhadas dos clientes, gera a possibilidade de criação de produtos e serviços melhores e mais pontuais.

Por exemplo, é possível desenvolver plataformas de agregação financeira que darão ao usuário uma visão geral e em um único ambiente (tais como internet banking e aplicativo) de todas as suas contas.

Com isso, ele pode facilmente migrar de uma instituição financeira para outra, escolhendo aquela que lhe oferecer a melhor solução.

Desse modo, vamos supor que o cartão de crédito A esteja com o limite comprometido. A organização que trabalha o cartão de crédito B pode se beneficiar dessa informação para oferecer crédito maior, juros menores, ou mesmo programas de fidelidade mais convidativos.

O mesmo vale, por exemplo, para oferta de crédito e empréstimos. Quanto mais informações o banco ou a fintech tiver, melhor será para sugerir uma solução sob medida ao consumidor.

Porém, sabemos que esse tipo de atuação não é o foco dos e-commerces, mas isso não quer dizer que essas empresas não possam se beneficiar com o open banking.

Benefícios do open banking para o e-commerce

O comércio eletrônico entre no rol dos negócios que não trabalham diretamente com a oferta de produtos e serviços financeiros, no entanto, mantém um relacionamento com as pessoas que os utilizam.

Considerando isso, como exemplo das oportunidades geradas, podemos dizer que o open banking se torna para os e-commerces a chance de aprimorar suas opções de meios de pagamento.

Afinal, uma vez que esse tipo de negócio tem informações precisas sobre o comportamento financeiro de determinado cliente e suas preferências, pode entregar a ele soluções que atendam suas necessidades de forma ainda mais pontual.

Além disso, o compartilhamento de dados é uma maneira de validar o comprador. Com isso, pode até conseguir reduzir as possíveis fraudes na internet.

Essa partilha de informações pode ser uma alternativa para que os e-commerces verifiquem questões como endereço e outras informações necessárias para a entrega dos produtos.

Isso tudo junto pode levar a melhoria dos processos do comércio eletrônico e, consequentemente, a uma experiência de compra melhor para o cliente.

O que é preciso para os e-commerces se beneficiarem com o open banking?

Mas, para que o comércio eletrônico possa usufruir dessas e de outras vantagens geradas pelo open banking, é preciso firmar contratos de parcerias com os players autorizados a participarem desse ecossistema.

Somente dessa forma é possível que empresas de variados segmentos — incluindo os e-commerces e instituições financeiras não autorizadas pelo Banco Central — façam parte do sistema financeiro aberto.

Aqui, vale lembrar que o fato de uma instituição não ter autorização do Bacen para operar não quer dizer que seja irregular.

Um dos principais motivos que levam à não autorização ou mesmo à dispensa, é que o Banco Central entende que suas atividades não geram riscos para o ecossistema financeiro.

Baseado nesse critério, o órgão fiscalizador viabilizou para que todas as empresas não autorizadas, ou não atuantes diretas do mercado financeiro, possam firmar parcerias com as instituições participantes do Oopen banking.

Dessa forma, todos podem obter os benefícios do compartilhamento de dados — e, também, compartilhar as informações que têm — e, assim, seguir uma das premissas do conceito, que é a reciprocidade.

Como funciona a contratação de parceria

Essas parcerias permitem o compartilhamento de cadastro dos clientes e dos representantes legais de uma empresa, bem como de informações sobre transações financeiras relacionadas, tais como:

  • movimentação de diferentes tipos de contas, por exemplo, de depósito à vista ou poupança e de pagamentos, tanto pré-pagas quanto pós-pagas;
  • operações de crédito e de câmbio;
  • seguros e previdências, entre outras.

Porém, há alguns critérios que validam essa parceria para participação no open banking aos e-commerces e demais empresas não autorizadas. Por exemplo:

  • não é permitido contrato entre instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central;
  • a instituição contratada não pode atuar em nome da contratante com o propósito de realizar compartilhamentos de informações e dados;
  • o cliente deve estar ciente que o parceiro contratado não atua em nome da empresa contratante;
  • a instituição contratada não pode realizar atividades voltadas para atendimento ao cliente em nome da organização contratante;
  • o contrato não pode incluir o compartilhamento de dados e informações de transações dos clientes realizados em outras empresas e instituições financeiras, se não as envolvidas no documento.

Há ainda outras orientações para que os e-commerces e demais negócios que não fazem parte diretamente do mercado financeiro possam se beneficiar do open banking.

Para conhecer todos os detalhes, sugerimos assistir ao webinaropen banking no Brasil e os impactos para o e-commerce”.

Como está o processo de implementação do open banking no Brasil e no mundo?

O open banking pode até ser uma novidade no Brasil. No entanto, já é uma realidade em diversos países e, aqueles que ainda não o implantaram, estão caminhando para isso.

No Reino Unido, por exemplo, o conceito de compartilhamento de dados financeiros mediante autorização prévia do cliente passou a valer a partir de 2018. Nos Estados Unidos foi declarado o “pró” open banking por meio de uma publicação do tesouro nacional.

Em outras regiões do mundo o open banking segue da seguinte forma:

  • Canadá: está em processo de análise do tema;
  • México: aprovou recentemente as leis voltadas para as fintechs que, por sua vez, são precursoras do sistema financeiro aberto;
  • Rússia: já está explorando o modelo open banking;
  • Japão, Hong Kong e Cingapura: estão avançando com a legislação necessária para o ecossistema;
  • Índia: em fase de preparação da sua infraestrutura bancária para receber o modelo open banking;
  • África do Sul: acompanha o desenvolvimento de seus PSD2 (Payment Services Directive).

Aqui no Brasil o open banking faz parte de uma jornada criada pelo Banco Central. É voltada para o processo de inovação de produtos e serviços financeiros que começou em 2002, com um projeto que visava a modernização dos pagamentos no varejo.

Desde então, várias ações estão acontecendo, incluindo:

  • a criação das Leis das Instituições de Pagamento em 2012;
  • a liberação da oferta de conta digital em 2016;
  • a legalização das fintechs de crédito e a Política de Segurança Cibernética em 2018;
  • o sandbox regulatório;
  • e o open banking em 2019.

Trajetória do open banking no Brasil

O cronograma de implantação do open banking, definido pelo Banco Central, passa por 4 fases:

  • comunicado da criação do sistema financeiro aberto, feito em abril de 2019;
  • abertura da consulta pública da regulação, realizada em novembro de 2019;
  • edição da regulação, efetivada no 1º semestre de 2020;
  • início da implementação, previsto para 2º semestre de 2020 (novembro) e término em outubro de 2021.

Recentemente, o Bacen lançou uma consulta pública sobre uma nova modalidade de instituição para open banking.

Trata-se do recebimento, até 8 de agosto, de propostas que visam alterações na regulamentação de instituições de pagamento (IP), especialmente os iniciadores de transação de pagamentos.

Aqui, vale salientar que instituições de pagamento são diferentes de instituições financeiras, uma vez que não estão autorizadas a realizarem financiamentos e empréstimos.

Assim, as instituições de pagamento são empresas autorizadas pelo Banco Central a oferecem aos seus clientes serviços relacionados apenas a movimentações de recursos, bem como a viabilizar serviços de compra e de venda.

E, no que diz respeito aos iniciadores de transação de pagamento serão, obrigatoriamente, instituições que contam com autorização de funcionamento o órgão fiscalizador para prestação de serviços financeiros, da forma citada anteriormente, a estabelecimentos comerciais e clientes finais.

Considerando isso, no caso da nova modalidade de instituição de pagamento prevista no ecossistema do open banking, o propósito é permitir que o cliente efetue seus pagamentos utilizando meios diferentes dos tradicionais.

Por exemplo, ao invés de o consumidor pagar uma compra em um e-commerce utilizando seu cartão de crédito ou de débito, o iniciador de pagamento vai permitir que o cliente pague diretamente da sua conta de pagamentos, mesmo sem estar com o cartão.

Para isso, o consumidor dará uma “ordem” à instituição na qual possui conta e solicitará que essa efetue uma transferência de valor diretamente para a conta do lojista.

Isso será possível dentro de qualquer arranjo de pagamento do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), a exemplo do Pix, que também será lançado este ano.

O que as instituições financeiras e seus clientes podem esperar do open banking?

De acordo com o Banco Central, ferrer">o open banking faz parte das estratégias que visam promover inovações e aumentar a competitividade do setor financeiro.

Além disso, a criação de um sistema financeiro aberto tem por objetivo aumentar a transparência desse mercado, sua eficiência e incentivar a criação de produtos e serviços financeiros mais eficientes.

Para chegar a esses resultados, o compartilhamento mútuo de dados e históricos financeiros, mediante autorização do titular, prevê adesão obrigatória de todas as instituições financeiras consideradas de grande e médio porte.

Os demais players, como as fintechs, têm participação facultativa. No entanto, uma vez dentro do ecossistema do open banking, devem compartilhar suas informações com outros participantes.

Cliente como foco e direcionador da operação

Visto que a troca de informações e dados bancários só podem acontecer após autorização expressa do titular, esse se torna o foco do sistema financeiro aberto.

A integração de diferentes produtos e serviços, realizada por meio de APIs, vai permitir que o usuário, por exemplo, acesse e movimente diferentes contas a partir de uma única plataforma.

Assim, mesmo que não esteja no site ou no aplicativo da instituição financeira com a qual mantém relacionamento, pode verificar produtos, serviços e ofertas disponibilizadas por outras, bem como todas as suas movimentações.

Vantagens para os clientes

Essa facilidade de acesso dará ao cliente diversas vantagens. Além do empoderamento que o open banking lhe proporciona, ele pode a qualquer momento cancelar o compartilhamento dos seus dados.

Além disso, o usuário pode construir seu leque de soluções financeiras, optando por aquelas que melhor atendam suas necessidades, independentemente de ser ofertada pelo seu banco ou não.

Vantagens para os players

Por sua vez, a competição entre os players para “chamar a atenção” do correntista e trazê-lo para a sua marca se torna maior.

Com isso, dá aos participantes do open banking a oportunidade de criarem produtos e serviços inovadores e, assim, saírem na frente de seus concorrentes.

O acesso ao histórico financeiro completo do usuário também ajuda a otimizar processos.

Por exemplo, a instituição participante do sistema financeiro aberto terá todas as informações que precisa para fazer uma análise de risco daquele potencial cliente. E, com isso, ofertar mais rapidamente soluções de crédito, empréstimo, entre outros serviços.

Desafios a serem transpassados

Como mencionado, o compartilhamento de informações do open banking será realizado por meio de APIs, que são conjuntos de instruções de programação que permitem a comunicação entre um ponto e outro.

No caso, as APIs desse ecossistema serão as responsáveis por permitir que bancos, fintechs e demais participantes acessem dados uns dos outros.

Considerando isso, um dos desafios para os players diz respeito à utilização de APIs abertas e padronizadas. Ou seja, que permitam fácil acesso das instituições financeiras por eles autorizadas. O serviço também precisa ser fácil, prático e, principalmente, seguro.

Neste ponto entram questões como o cumprimento da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais), que inclui também o acesso, o compartilhamento e o modo como serão utilizados os dados pessoais do cliente, e não apenas os financeiros.

Sendo assim, será preciso a padronização dos serviços financeiros, cumprindo as regras e leis já estabelecidas pelo Bacen — tais como a Resolução Conjunta nº 1 e a Circular nº 4.015 — , bem como prezar pela segurança dos clientes.

Quais outros benefícios podem ser obtidos com o open banking?

O open banking tem potencial para gerar diversas oportunidades de receita aos seus participantes.

Para se ter uma ideia, a pesquisa “The future of banking is open & How to seize the Open Banking opportunity”, realizada pela PwC, network de firmas independentes, constatou que essas novas receitas podem chegar próximo a 7,2 bilhões de libras, até 2022, no Reino Unido.

Aqui, não podemos deixar de citar também que essa abertura do sistema financeiro visa a redução de juros dos serviços, produtos e transações ofertados até então. Além disso, o ecossistema também tende a reduzir os custos operacionais.

Há também a possibilidade de entregar serviços menos burocráticos, mais personalizados e realmente de acordo com a necessidade de cada cliente.

A soma de todos esses fatores pode levar a ofertas de soluções mais baratas aos usuários dos serviços financeiros que, quanto mais acessíveis forem, mais atrativas se tornam, contribuindo para aumentar as taxas de retenção e de atração dos players participantes.

E, como você pôde ver até então, o sistema financeiro aberto gera novos negócios mesmo para empresas que não são participantes diretas do mercado financeiro (como os e-commerces), graças a possibilidade de firmarem parcerias com as instituições participantes.

Essas parcerias, por sua vez, também se tornam uma boa oportunidade de conhecer melhor o consumidor do comércio eletrônico, seu perfil, costumes e gostos.

Com essas informações nas mãos, as empresas têm a chance de inovar em suas ofertas de produtos, bem como em soluções de logística e meios de pagamento mais adequadas.

Considerando tudo isso, é válido dizer também que o open banking vai ao encontro do Banking as a Service.

Mais uma forma de inovar na oferta de produtos e serviços financeiros

O Banking as a Service é outra proposta de inovação que permite que mesmo empresas que não têm seu core business no mercado financeiro passem a oferecer aos seus clientes serviços e produtos financeiros.

Utilizando uma plataforma White Label, semelhante a da Zoop, qualquer empresa pode criar soluções financeiras com a própria marca, de acordo com as dores dos seus clientes.

Assim como o open banking, as aplicações do Banking as a Service são feitas via API.

Além de permitirem explorar toda a tecnologia do desenvolvedor, a empresa que quer atuar nesse mercado tem a vantagem de adquirir apenas o produto ou serviço que mais lhe interessar.

Somado a isso, essas soluções livram os negócios de questões regulatórias e de custos com desenvolvimento, pois tudo é adquirido pronto para uso.

No que diz respeito à relação entre o Banking as a Service e o open banking, é importante ressaltar ambos os conceitos contribuem para aumentar o poder de competitividade de qualquer negócio.

Dessa forma, mesmo quem não atua diretamente no mercado financeiro, está vendo nele a possibilidade de expandir seu portfólio, bem como de atrair novos clientes.

No caso dos e-commerces, por exemplo, atualmente já não basta oferecer os melhores produtos e logística de entrega. Quem não pensar em soluções de meio de pagamentos inovadoras, será deixado de lado pelos consumidores.

Vale lembrar também que todas as relações comerciais passam por movimentações financeiras. A diferença, hoje em dia, é que as empresas perceberam que podem gerar novas receitas com isso, mesmo se esse não for o foco do seu negócio.

Uber e iFood são dois bons exemplos de marcas que passaram a oferecer aos seus parceiros produtos e serviços financeiros com a própria marca, e todos na medida certa para sanar os problemas dos seus clientes.

Ambas não deixaram de atuar no seu propósito, porém, se valeram dos benefícios que as transações financeiras oferecem e as integraram ao seu processo de transformação digital, o que, por sua vez, gerou novas receitas, fidelizações e fortaleceu seus nomes no mercado de atuação.

Ou seja, é uma nova forma de participação no varejo que merece (muito) ser considerada.