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O que a pandemia nos ensinou sobre estoques?

Por: Victor Tubino

é gerente de BPI (Business Performance Improvement) e líder da prática de Distribuição e Gestão de Estoques da Protiviti do Brasil, consultoria especializada em gestão de negócios, tecnologia, riscos e auditoria interna.

As empresas tiveram sua resiliência operacional testada durante a pandemia da Covid-19. Durante este período em que passamos, tiveram que se adaptar internamente e reavaliar suas relações com fornecedores e parceiros. Devido à redução e à interrupção temporária do fluxo de transportes — seja por via aérea ou marítima no âmbito internacional ou nacional —, muitas organizações sofreram impactos de disponibilidade de insumos. Apesar de as empresas se preparem e gerenciarem seus estoques para variações de demanda, a pandemia trouxe este tema para uma discussão mais ampla.

Um dos modelos mais difundidos de gestão de estoque é o Just In Time, no qual a empresa deve manter o estoque mínimo. Essa estratégia é muito utilizada para reduzir os custos de armazenagem e de gerenciamento de estocagem. Afinal, permite que em casos de variações negativas na demanda, os desperdícios sejam reduzidos. Neste modelo é necessário que, em casos de variações positivas na demanda, haja parceiros e fornecedores ágeis para não perder oportunidades. As organizações que adotaram este modelo e possuíam estoques para apenas um dia ou horas ou com cadeias de suprimentos internacionais foram as primeiras a sentirem rupturas.

De acordo com a pesquisa The Supply Chain Resilience Report 2021 do Business Continuity Institute (BCI), que foi realizada com 173 respondentes de 62 países, 72% das organizações sofreram algum tipo de ruptura. Dessas, 84% foram motivadas por problemas alfandegários rodoviários internacionais, 65% por atrasos em rotas marítimas e 63% no modal aéreo. Os fluxos internacionais foram os que mais tiveram impacto. Isso ocorreu por conta das diferenças entre as políticas sanitárias, das medidas restritivas e do cenário da pandemia em cada país. Nessa mesma pesquisa, cerca de 25% das organizações relataram que a adoção do modelo Just in Time (JIT) foi responsável pela ruptura.

Nesse contexto, conforme o relatório BCI’s Future of Supply Chain Post-COVID-19 Report, cerca de 20% das empresas estão reavaliando aumentar seus estoques — com o objetivo de estarem mais preparadas para possíveis rupturas, apesar de aumentarem seus custos de armazenagem. Essa lógica é conhecida pelo modelo Just in Case, caracterizado por manter um estoque de segurança maior do que o necessário para poder suprir rapidamente as consequências das rupturas. Importante ressaltar que dentro de um modelo de gestão de estoques é necessário considerar o viés de riscos computando insumos, matérias-primas e peças de reposição críticas ao negócio, além das dependências diretas e indiretas de parceiros e fornecedores.

No recorte específico das estratégias de manutenção, muitas vezes não sendo alvo das análises de riscos, é fundamental que sejam avaliadas:

  • máquinas de produção;
  • armazenagem;
  • equipamentos refrigerados;
  • ativos de TI e Data Center, entre outros (que afetam direta ou indiretamente o negócio).

Vale ressaltar que as restrições ou dificuldades regulatórias e disponibilidades com fornecedores também são objetos de análise.