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Você sabe mesmo o que é metaverso e como “varejar” com ele?

Por: Jean Makdissi

Experiência de 22 anos no mercado B2B e B2C de vestuário. Founder e CEO da IntimaStore.com e Diretor Executivo do Grupo Cleutex, fundado em 1966. Administrador de Empresas e Mestre em Gestão de Competitividade para o Varejo pela FGV. Dirigente da Associação de Lojistas do Brás e membro do Conselho de Curadoria do E-commerce Brasil.

Embora não se fale em outra coisa, percebo que ainda há muita confusão quando o assunto é metaverso e este artigo vai tentar não só esclarecer o assunto, mas principalmente trazer algumas dicas de como varejar nesse ambiente virtual.

O termo metaverso foi propagado com força no ano passado, quando Mark Zuckerberg iniciou um processo de reposicionamento de sua bilionária empresa, The Facebook Company. Para muitos, esse reposicionamento foi uma estratégia para revigorar a cansada marca da rede social “dos meus pais” e que, além de tudo, estava desgastada com envolvimento em polêmicas e escândalos. 

Não há como negar que este rebranding estratégico da agora Meta Company, acompanhado do lançamento do ambiente metaverso da empresa, foi bastante inteligente.

Esse direcionamento coloca a companhia no centro da evolução tecnológica que foi acelerada na pandemia, e que passa especialmente pelo aumento exponencial da velocidade da internet, do uso de ambientes virtuais para comunicação, entretenimento e trabalho e da melhoria dos equipamentos voltados à realidade virtual, aumentada e 3D, que são a base do ambiente de metaverso. 

A melhor definição de metaverso que já vi foi trazida pelo professor da FGV Henrique de Campos Júnior em uma de suas palestras: “O metaverso é uma rede de mundos virtuais 3D, em tempo real, que podem ser experimentados por um número ilimitado de usuários, com um senso individual de presença e com continuidade de dados, como identidade, histórico, direitos, propriedade de objetos, comunicações e pagamentos.”

Vale destacar os termos: continuidade de dados, identidade, histórico, direitos, propriedade e pagamentos. 

Na verdade, o metaverso não é tão novo assim. Os melhores exemplos que temos são os games como Fortnite, Minecraft, Roblox, The Sandbox ou mesmo o brasileiro PK XD. 

Nesses ambientes, os jogadores já vivem o metaverso (conceitualmente falando), pois têm seus avatares que formam círculos sociais, que se misturam entre o físico e o virtual. Esses avatares têm propriedades, como roupas, acessórios, terrenos e construções, que são adquiridos com pontos ou com dinheiro real, e que passam a lhes pertencer e permanecem de forma contínua, como na vida real.

Não “o” metaverso, mas “os” metaversos

Uma confusão comum relativa a esse mundo é o fato de que não existe somente um metaverso, existe, sim, quantos metaversos alguém esteja disposto a lançar. A relevância de cada um desses metaversos se constitui na tradicional relevância de qualquer negócio, que é a capacidade de atrair audiência para o seu ambiente. Assim como os marketplaces, possivelmente teremos alguns ambientes de metaverso dominantes, mas sempre haverão novos e nichados.

A evolução da tecnologia, permitirá que esses ambientes se proliferem grandemente, afinal a experiência com o aumento da velocidade da internet e da melhoria dos equipamentos de realidade virtual e aumentada farão que se tornem cada vez mais comuns. 

O metaverso terá grande tração nas seguintes áreas:

  • Trabalho;
  • Educação;
  • Socialização;
  • Lazer;
  • Saúde.

Com a mesma experiência sensorial de uma reunião presencial, qual será a justificativa para viajar milhares de quilômetros para realizar o fechamento de um negócio? Imaginem como isso poderá afetar o mercado aéreo e os hotéis.

E o turismo? Museus famosos, apresentações teatrais, cinema, esportes, monumentos, enfim… tudo será possível de se visitar através do metaverso.

E a educação? Será possível estudar nas melhores universidades do mundo, com os melhores professores e com o melhor networking estando você aonde estiver e com a sensação de inclusão e presença.

E a saúde? Não vamos precisar nos deslocar para uma consulta e ficar aguardando na sala de espera dos consultórios. Até mesmo cirurgias complexas poderão ser realizadas com os devices 3D e a velocidade da internet instantânea.

Essa evolução vem acompanhada de uma nova matriz tecnológica e de pagamentos, as NFTs, criptomoedas e o blockchain, que são a base monetária e regulatória dessa nova realidade.

Mas e o varejo? Como será possível utilizar-se do metaverso?

Aqui cabe uma percepção interessante do professor e coordenador do FGVcev Maurício Morgado. “Se você vender produtos e serviços digitalizáveis (em bits e bytes), o impacto do metaverso no seu negócio será enorme. Se você vender produtos físicos (em átomos), o metaverso vai servir como mídia e/ou canal de venda.”

Iniciativas de conjugar o varejo com o metaverso já começam a pipocar

Signature Faces da L’oréal

Reprodução/L’Oreal Paris

A L’oréal Paris lançou, há cerca de um ano, uma linha digital de maquiagens, a coleção Signature Faces. Afinal, quem não vai querer ficar apresentável em uma reunião virtual sem a necessidade de passar base, gloss, rímel e blush? E se a L’oréal, ao vender a versão física, já encaixar o combo digital? Gera valor ou não para o cliente?

Carrefour no Fortnite

Reprodução/Carrefour

O Carrefour, lançou um mapa no jogo Fortnite (febre com mais de 500 milhões de jogadores no mundo) em que o jogador pode recuperar a vida através de uma alimentação saudável a ser adquirida na loja ecológica que hospedaram no game. Boa sacada, não é? Daí a já aproveitar a deixa e montar seu carrinho de compras a ser entregue em casa é um pulinho.

Brasileira PK XD em parceria com a Pampili e Reserva

Reprodução/Pampili e Reserva Kids

Um jogo nacional que virou febre é o PK XD, da Afterverse. O game anunciou no final do ano passado parcerias com as marcas Pampili e Reserva Kids. Os jogadores e seus avatares poderão se vestir igual. Não é bacana?

Nikeland em Roblox

Reprodução/Nike

A Nike criou a Nikeland em parceria com o Roblox e se conectou não só com o metaverso, mas também com 50 milhões de usuários que jogam diariamente o jogo. Uma ótima forma de se relacionar com as novas gerações.

D2A – Direct to Avatar

Essas marcas estão inaugurando uma nova modalidade de negócios, o D2A, onde as marcas vendem diretamente aos avatares e transformam e criam uma nova realidade de negócios. 

Seul a primeira capital mundial a lançar sua versão metaverso

Seul antecipou-se e tornou-se a primeira capital mundial a lançar uma versão no metaverso. O projeto prevê desde uma prefeitura digital que tratará de demandas e licenças, até o incentivo ao turismo e negócios. Quem sabe um dia não nos encontramos num evento na versão metaverso de Seul? Será que cobrarão visto para visitarmos?

Conclusão

Cada vez mais, fica evidente que os negócios não podem estar focados em canais, modelos ou produtos. As empresas precisam adotar o conceito de Customer Centricity, onde todas as suas ações giram em torno das necessidades e desejos do consumidor, ou seja, na solução de dores ou no encantamento de seus clientes. 

As novas gerações especialmente, não são atraídas por ambientes estáticos e monótonos, elas buscam soluções práticas em seu dia-a-dia, e esse dia-a-dia acontece nas redes sociais, nos apps de mensagens, em mobile apps e devices, nos games, em streaming de vídeos, séries, músicas e filmes, e certamente todos esses serviços passarão a oferecer ambientes sedutores em metaverso. Cabe ao varejo manter-se conectado com seu público e acompanhá-lo aonde quer que ele vá.

Como varejista, você deve pensar em lançar seu próprio metaverso? Minha resposta é: se sua empresa tem envergadura para investir em peso na tecnologia e geração de audiência, pode ser interessante, sim! Caso contrário, vale mais observar as iniciativas vencedoras e relacionadas ao público de interesse do seu negócio e buscar associar-se a estes ambientes e audiências, assim como sua empresa já faz nas redes sociais e marketplaces, por exemplo.

Leia também: Metaverso e marketing: o que esperar dessa relação?