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Marketplace é Ouro realmente?

Por: Mauro Tschiedel

sócio da Usinainfo (www.usinainfo.com.br), e-commerce focado em Ferramentas e Peças para Eletrônica. Engenheiro Agrônomo por Formação, atuou sempre com foco em tecnologia, gestão e sistemas. Já foi sócio de empresas de Agricultura de Precisão, Desenvolvimento Web.

Algum tempo atrás estava tomando uma cerveja com um amigo e ele me contou uma história da época que eles procuravam pedras semi-preciosas e quebrou uma perna quando um barranco de terra caiu sobre ele. Depois do acontecido, eles desistiram, e a única coisa que tinham encontrado foi Pirita (Ouro de Tolo), que parece ouro, mas não é.

Os defensores ferrenhos dos marketplaces, dizem que ali está o ouro do e-commerce nos dias atuais, o futuro da internet será ali. Ao ler isto, lembrei-me de um texto do Eduardo Bento (https://www.ecommercebrasil.com.br/artigos/marketplace-x-rentabilidade-uma-analise-realista/), que foi muito feliz em tratar o assunto da rentabilidade nos marketplaces.

Este texto tem como ideia mostrar que, na busca pelo ouro, pode restar alguém machucado e o ouro pode realmente não existir.

Abaixo vou pontuar algumas reflexões, pensamentos e situações que vejo como ‘ouro de tolo’ no mercado do marketplace no Brasil:

  1. Quando você cadastra um produto no marketplace e ao inserir suas fotos, elas ficam vinculadas pelo código de barras. As fotos cadastradas e feitas por você, ficarão disponíveis no Buybox, porém se um concorrente cadastrar o mesmo produto, as fotos que serão exibidas são as suas (servindo para você e para seu concorrente). Para ficar mais “estranho”, se você “despublicar” o produto, suas fotos vão continuar sendo exibidas no produto do concorrente. As fotos são vinculadas ao produto no marketplace e não ao seu produto específico, sendo vantagem para o concorrente que não fez a foto, mas acaba sendo beneficiando por ter as fotos vinculadas ao produto dele.
  2. Você faz a descrição do seu produto com muito esmero e dedicação: gasta horas, investe tempo e dinheiro, seguindo a mesma lógica das fotos. Ponto para seu concorrente que não gastou tempo com fotos e texto, e vai ser mais eficiente em preço que você, pois vai apresentar a sua descrição no produto dele.
  3. Qual a garantia que o marketplace não venderá o mesmo produto que você? Não se assuste se hoje você é nicho e vende 1000 unidades no marketplace, e amanhã aparece o próprio marketplace vendendo o produto. Ou você é muito inocente para acreditar que vão pensar em você? Uma simples análise de visitas comparada com o número de vendas na mão de um comprador é ouro. Mas o detalhe é que a informação não está na sua mão, mas no marketplace!
  4. Tente colocar mais de uma operadora de frete ou algum frete especial para o seu produto. Em alguns casos possivelmente você não conseguirá. Então, para quem precisa de eficiência logística, esqueça. Para quem precisa de frete especial, cotado, nem se fala!
  5. Alguns avaliam tempo de resposta para posicionar os produtos, melhorar reputação, porém para eles, o horário comercial acaba às 20 horas, ou seja, ou você atende no horário determinado por eles ou é penalizado.
  6. Faça tudo certo: emita nota fiscal, entregue, tenha CNPJ, endereço físico e outros irão ter reputação melhor que você sendo pessoa física, sem NF. A regras são ‘claras’, mas a caixa preta real ninguém abre.
  7. Os sistemas de backoffice deixam muito a desejar quando pensamos em algo ‘moderno’ e ágil. São complexos de operar, lentos, e alguns parecem que não estão prontos.
  8. Dias atrás lendo um texto, fiquei espantado ao descobrir que as APIs e sistemas de alguns marketplaces, não operam em tempo real, e alguns têm delays de 15 minutos, uma hora, etc. Não entendo como alguém opera estoque de forma correta, com um delay destes. É óbvio que irá dar furo de estoque e os clientes irão ficar sem o produto. E ainda tem gente que diz que omnichannel é o top do momento. Como vai fazer omnichannel se nem Real-Time de estoque conseguem? Óbvio que vão dizer que é problema de sistema, processamento, etc, mas isso é problema do marketplace, e não de quem vende. No momento que dá furo de estoque, quem será taxado como o ineficiente será a loja. Para pensar: por que banco funciona, ao transferir dinheiro da conta A para B, baixando o saldo em tempo real?
  9. Você publicou um produto com a foto errada e quer alterar rapidamente para não ter problemas com os cliente que compraram? Esqueça.
  10. Tente cadastrar um produto 110V/220V ou mesmo escolher cores ou tamanhos em alguns marketplaces para ver a novela que será.
  11. Li um texto que afirmava que estar na BuyBox é importante para marketing. Até pode ser, mas acho que estão vendo ouro onde não existe. Se a proposta do marketplace é a credibilidade dele, por que o cliente vai pagar mais caro? Ou você tem preço, ou está morto.

Este artigo fala um pouco do lado negativo dos marketplaces, analisando situações pontuais, que precisam de melhorias para que realmente tenhamos um mercado maduro e condizente entre marketing e mundo real. Este artigo é para mostrar que quando muito se fala de um assunto aquilo se torna verdade. Cuidado com afirmações de que um local tem ouro, afinal não quer dizer que ele realmente exista. Quem sabe você irá cavar…cavar e ainda morrer soterrado.

Obviamente, para algumas empresas será ouro, mas que este texto sirva de caminho para analisar e decidir o melhor caminho para o seu negócio.

Parafraseando o Eduardo Bento sobre as pipocas, posso dizer que tem muita Pirita se achando Ouro. Seja crítico, pense por você e decida se realmente o que te apresentam é ouro ou pirita para seu negócio.