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Grandes distâncias: implicações para o comércio eletrônico

Por: Fernando Di Giorgi

é ex-sócio fundador da Uniconsut Sistemas, empresa especializada em back-office para grandes lojas de e-commerce. Fomado em Matemática pela USP, pós-graduado em Administração pela FGV e em Análise Econômica pela FIPE, mestre em Economia pela PUC-SP.

Todos sabem que o centro consumidor do comércio eletrônico é a Região Sudeste, porém é surpreendente que as Regiões Norte e Nordeste constituam-se num mercado consumidor equivalente à Região Sul, embora com menor renda per capita e maior distância dos centros de distribuição do grande varejo eletrônico. Isso ilustra o problema a ser abordado neste artigo: venda não presencial para clientes localizados a grandes distâncias do centro de distribuição.

1 – Consumidor

Do ponto de vista do consumidor residente em cidades desprovidas de grandes centros comerciais, o comércio eletrônico, permitindo o acesso a um imenso shopping, a amplo sortimento e a toda sorte de marcas, liberta-o dos condicionamentos impostos pelos lojistas locais. A perda da reserva regional de mercado está na base da reestruturação do setor comercial, basta notar o recente processo de concentração de redes de lojas físicas. O único desconforto seria o longo prazo de entrega devido à distância e a lotação de carga, porém amplamente compensado pela oferta disponível.

2 – Lojista

Do ponto de vista do lojista virtual, não mais importa onde o cliente reside, embora se mantenha a dramática importância do fluxo entendido como visitação. Esta extensão de mercado tem seu custo:

– Frete grátis.

Devido ao ainda primitivo tratamento oferecido aos clientes pelas lojas virtuais – na verdade, desconhece-se quem está comprando – a única variável comercial usada para atrair o cliente é o frete, daí a possibilidade da gratuidade como vantagem competitiva. Para grandes distâncias e mercadorias volumosas, isto tem se mostrado um desastre e, pior, de difícil reversão.

– Devolução imotivada com a coleta por conta do lojista.

Este é uma das debilidades do comércio eletrônico tanto do ponto de vista de custo quanto da complexidade administrativa. A lentidão do processo de devolução e a consequente demora do crédito ao cliente implica a perda do cliente.

– Mudança na estrutura logística das grandes lojas.

A ampliação do mercado tanto do ponto de vista de volume de vendas quanto da sua dispersão de seu atendimento tem viabilizado a existência de depósitos mais próximos dos locais de consumo para evitar despesas de transporte e reduzir prazo de atendimento.

3. Transportadora

Do ponto de vista das transportadoras, o comércio eletrônico abriu um mercado imenso, principalmente para cargas leves.

3 – A demanda por carga

Devido à extraordinária taxa de crescimento do comércio eletrônico – tem cronicamente superado a oferta justificando a grande inversão de capital no setor. Somente os Correios têm cobertura nacional – razão fundamental de seus privilégios fiscais -, todos os demaiscouriers utilizam-se dos Correios para o último trecho do transporte para áreas com pouco volume de carga.

–  A reversa

O grande problema que as transportadoras enfrentam é a coleta das devoluções: o ponto de embarque é a residência do cliente e nem sempre quem fez a entrega fará a reversa por falta de volume ou por terceirizar último trecho da entrega – por incrível que pareça, com todos os acidentes citados, há lojas que aceitam vender um colchão de casal saindo de São Paulo para o interior do Maranhão.

– O apelo à postagem

Uma das formas de driblar as dificuldades da reversa para carga leve é a postagem pelo cliente, porém restrita aos Correios e, digamos, pouco afeita ao princípio básico do comércio eletrônico, ou seja, a comodidade.

– As excepcionalidades da entrega

A dificuldade da venda em sua integralidade – possibilidade de devolução, erro de endereço, cliente ausente etc., dispensa comentários.