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Entrevista sobre acessibilidade com Reinaldo Ferraz do W3C Brasil

Por: Redação E-Commerce Brasil

Equipe de jornalismo E-Commerce Brasil

Acessibilidade é o termo usado para indicar a possibilidade de qualquer pessoa usufruir de todos os benefícios da vida em sociedade, entre eles o uso da Internet. É o acesso a produtos, serviços e informações de forma irrestrita. Uma exigência do decreto 5.296, publicado em dezembro de 2004, torna obrigatória a acessibilidade nos portais e sites de administração pública, garantindo a todos o pleno acesso aos conteúdos disponíveis. Porém, nem todos os sites – governamentais ou não – são desenvolvidos para serem acessíveis. E as lojas virtuais não estão fora dessa estatística que só faz afastar o internauta. Sim, é fundamental ter uma plataforma adequada, um bom back office, se preocupar com atendimento e o SEO da sua loja. Da mesma forma, a acessibilidade e a usabilidade são fatores primordiais e que mostram, acima de tudo, visão estratégica.

Nesta entrevista, Reinaldo Ferraz, especialista em desenvolvimento web do W3C Brasil, explica um pouco dos fundamentos e da importância de se pensar em acessibilidade ao construir um e-commerce. Reinaldo possui formação em desenho e computação gráfica e é pós-graduado em design de hipermídia. Trabalha há mais de 12 anos com desenvolvimento web, tendo grande experiência em acessibilidade, e é especialista nos padrões web do W3C (HTM, XHTML e CSS). O Consórcio World Wide Web (W3C) é um consórcio internacional no qual organizações filiadas, uma equipe em tempo integral e o público trabalham juntos para desenvolver padrões para a Web. Liderado pelo inventor da Eeb Tim Berners-Lee, e o CEO Jeffrey Jaffe, o W3C tem como missão conduzir a World Wide Web para que atinja todo seu potencial, desenvolvendo protocolos e diretrizes que garantam seu crescimento em longo prazo.

Qual a melhor definição de ‘acessibilidade’?

Acessibilidade significa promover o acesso às pessoas com deficiência, mas acho que isso vai além. Acessibilidade significa permitir o acesso de TODAS as pessoas, independentemente de alguma deficiência. Acredito que a melhor forma de definir esse termo é um ambiente digital sem barreiras de acesso às pessoas, independentemente de alguma limitação, tanto física como tecnológica.

Qual é a diferença entre acessibilidade e usabilidade? Como a aplicação conjunta delas contribui para uma inclusão efetiva?

Acredito que ambas são importantes para a inclusão de todas as pessoas e se complementam. Algumas ações que promovemos em nossas páginas pensando na acessibilidade acabam melhorando a usabilidade também. Por exemplo, em campos de formulários “radiobox” ou “checkbox”, quando relacionamos seus nomes corretamente com seus campos, não precisamos mais clicar somente na “bolinha” ou “quadradinho” para selecionar um campo. Ao clicar no texto ao lado, o campo do formulário também é selecionado. Com isso, ganhamos em usabilidade e em acessibilidade, já que os campos ficarão corretamente identificados com seus rótulos para tecnologias assistivas também.

Quando falamos de acessibilidade na Web, lembramos primeiramente de pessoas cegas, mas a questão vai mais além. Que outros tipos de situações se encaixam em uma situação na qual sites “convencionais” não são acessíveis?

Além dos cegos, pessoas com baixa visão são beneficiadas com o uso de contraste adequado, por exemplo. Pessoas surdas conseguem compreender um vídeo na Internet desde que tenham legendas, e pessoas com mobilidade reduzida, ou que não têm destreza com o uso do mouse, são beneficiadas quando criamos uma página que não crie barreiras de acesso via teclado. Como disse antes, a acessibilidade beneficia a todas as pessoas. Costumo dizer que em algum momento da nossa vida vamos precisar da acessibilidade em nossas páginas, já que conforme vamos envelhecendo vamos perdendo gradativamente a visão, a audição e a destreza com o uso do mouse.

Há leis específicas no Brasil para acessibilidade na Web? Se sim, como é feita a fiscalização?

Sim, existem leis para acessibilidade na Web. O decreto Nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004 (http://bit.ly/ra238D) determina que os websites de órgãos públicos devem ser acessíveis. Infelizmente, segundo pesquisa feita pelo CGI.br/W3C.br em 2010, somente 2% das páginas governamentais são acessíveis (http://bit.ly/NLfBdZ). A acessibilidade na Web também foi considerada na Lei de Acesso à Informação (http://bit.ly/JS437F).

Por que a acessibilidade muitas vezes não é levada em conta na hora de desenvolver um projeto web, como um e-commerce?

Acredito que o desconhecimento da importância da acessibilidade seja um dos grandes motivos para que desenvolvedores e gestores acabem não considerando sua implementação em projetos web. Quando um gestor de projeto entender que pessoas com deficiências são consumidores, ele vai considerar o acesso dessas pessoas como importante também.

g>Pode-se dizer que as empresas que possuem um site acessível têm uma visão estratégica. Por quê?

Sim, porque elas sabem que uma pessoa com deficiência é um consumidor em potencial.

De que forma uma loja virtual pode melhorar a sua acessibilidade? Você pode citar exemplos?

Existem alguns cuidados que os sites de e-commerce devem ter, e que servem para todo o tipo de site: cuidar da acessibilidade dos formulários, especialmente os de finalização de compras, descrição das imagens dos produtos, navegação clara e posicionamento adequado de cabeçalhos de página são algumas das boas práticas que ajudam pessoas com deficiências a navegar por uma página.

Acessibilidade é apenas para sites desktop, ou sites e aplicativos mobile também podem ser acessíveis?

O W3C trabalha com o conceito de uma Web única e em qualquer dispositivo, logo, a acessibilidade deve ser levada, sim, em consideração quando se trabalha em mobile. Tamanho de fontes, peso de página e contraste são alguns exemplos de requisitos de acessibilidade que beneficiam pessoas que estão utilizando um celular, por exemplo, na rua sob incidência de sol e utilizando uma rede de baixa velocidade.

Que exemplos temos hoje, no Brasil, de projetos de acessibilidade que tiveram sucesso? 

É possível encontrar bons exemplos de projetos web acessíveis nos vencedores do primeiro Prêmio Nacional de Acessibilidade na Web – http://premio.w3c.br/, divulgados em maio. São projetos que foram premiados, bons exemplos de que é possível fazer um website acessível, sem barreiras de acessos e contemplando todos os públicos.

Além disso, existe a cartilha do E-Mag (http://bit.ly/NLnK1V), que é o modelo de acessibilidade do governo eletrônico. Ela foi criada para orientar desenvolvedores e gestores na criação de páginas web acessíveis.

O que ainda falta para que as empresas invistam em acessibilidade na Web e em gadgets? Acredito que a falta de informação ainda é uma grande barreira. Existem gestores e desenvolvedores que não fazem ideia de que pessoas com deficiência possam acessar a Web. O W3C Brasil tem trabalhado a conscientização da sociedade para essa questão no Brasil, com palestras e reuniões em todo país para ampliar a discussão sobre o tema.

Por outro lado, algumas empresas já notaram que pessoas com deficiência ganharam autonomia no acesso à Web e são consumidoras. Se uma pessoa com deficiência tentar comprar um produto em uma loja virtual e não conseguir por alguma barreira da página, ou ela vai reclamar com a empresa ou vai procurar o concorrente.

O princípio para tornar um website acessível é o mesmo para a arquitetura tradicional: é muito mais barato implementar quando pensado no início do projeto do que quando a obra estiver concluída. E quando a acessibilidade faz parte do dia a dia do desenvolvedor, ele já leva isso em consideração no projeto, de forma natural, sem ter que adaptar a página depois.

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