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E-commerce: a alavanca para recuperação do varejo brasileiro pós-Covid-19

Por: Samuel Gonsales

É especialista em omnichannel, sistema de gestão (ERP) e e-commerce, acumulando mais de 23 anos de experiência. Diretor de Relacionamento no E-Commerce Brasil e Diretor de Operações na ABComm, é Autor do livro: "Sistemas ERP na Omniera" (Ed. E-Commerce Brasil) e Co-Autor do livro: "Vendas + Operações no e-commerce" (Ed. MCT). Foi vencedor dos prêmios E-Commerce Brasil 2015 como Melhor Profissional de e-Commerce, prêmio ABComm 2017 como Melhor Profissional de e-commerce e Prêmio Digitalks 2019, desta vez como destaque do Mercado Digital. Também é palestrante em eventos de e-commerce e TI.

Ele cresce na casa dos dois dígitos há mais de uma década. E, aos poucos, vem causando as mais importantes transformações que provocam e induzem o mercado de varejo brasileiro a se reinventar. Sim, o e-commerce continua sendo a bola da vez!

Vinte e poucos anos atrás, o desafio era criar a sua própria plataforma de e-commerce, já que não havia fornecedores para uma demanda tão pequena. E para quem criou seu e-commerce nessa época, os investimentos em tecnologia eram gigantescos.

Anos depois surgiram as primeiras plataformas de e-commerce. Algumas delas são atualmente gigantes desse mercado no Brasil, mas somente cerca de quinze anos atrás é que as primeiras ofertas de meios de pagamento eram interessantes para e-commerce…

Transformação do e-commerce

Algumas das empresas tradicionais do mercado de pagamentos só entraram de cabeça no e-commerce mais recentemente. Isso porque com a chegada de tantos novos entrantes especialistas nesse segmento, elas precisavam ocupar espaço, já sabendo que não poderiam viver só das maquininhas de cartão nas lojas físicas. Dias atrás uma dessas empresas de pagamento anunciou a possibilidade de realizar transações no Brasil via WhatsApp, numa parceria inédita com o Facebook.

A partir de 2011, com inúmeros investimentos advindos de todos os cantos do planeta — e focados nas principais operações de e-commerces brasileiros —, um novo cenário surgiu. Chegaram os marketplaces, que rapidamente se consolidaram. As agências de marketing de varejo passaram a olhar para marketing digital. O termo Adwords passou a ser bastante conhecido e um número espetacular de soluções de pequenas funcionalidades do e-commerce surgiu:

  • mapa de calor;
  • reviews;
  • recomendação;
  • agência de performance;
  • afiliados;
  • anti-fraude;
  • consultoria para SEO;
  • integradores;
  • produção de catálogo (descrições, fotos, vídeos, etc);
  • empresas de full commerce que suportam marcas e tradicionais empresas em toda a sua operação online, e por aí vai.

O universo dos ERPs no e-commerce

Mais recentemente, uma nova onda de mudanças influenciadas pelo e-commerce: os tradicionais sistemas ERP monolíticos tiveram que se reinventar para suportar os inúmeros novos processos de negócio que um e-commerce precisa gerenciar. Para se ter uma ideia, algo que era super comum em um e-commerce, como receber o dinheiro antes de faturar a nota fiscal, era inconcebível para a grande maioria dos ERP clássicos.

Quem não se adaptou, saiu comprando as soluções emergentes para se adaptar. As tradicionais conciliações financeiras destes ERPs podem ser citadas como outro bom exemplo de adaptação que o e-commerce trouxe. Especialmente para as empresas que passaram a vender na loja online própria e nos marketplaces — cada marketplace tem políticas completamente específicas a respeito da conciliação financeira. Aliás, para preencher a lacuna dos ERPs que ainda não se adaptaram completamente, já existem empresas e sistemas especializados na conciliação de marketplaces.

Novidades na logística

De poucos anos para cá, a nova onda foi a reinvenção das empresas transportadoras e o surgimento de um número ímpar de novas soluções de entrega. Em alguns casos, a entrega em apenas 1h é tida como primordial pelo consumidor, que está disposto a desembolsar por essa conveniência. A perspectiva que o varejo tradicional tinha a respeito de transportadores era de uma distância incrível. Porém, o varejo online mudou significativamente as empresas de transportes — as que se adaptaram estão rindo sozinhas!

Ainda na onda de transportes, entregas e conveniência e comodidade dos consumidores, já se consolidou no Brasil o modelo de retirada em loja para mercadorias compradas online. Sem contar os lockers, que estão abrindo espaço como mais uma possibilidade incrível.

Em meu livro mais recente, o “Vendas + Operações no e-Commerce”, escrito em parceria com meu grande amigo Rodrigo Maruxo (uma referência nesse mercado), dedico algumas páginas indicando outra transformação profunda do varejo, o omnichannel. Lá eu defendo a existência já comprovada no Brasil de pelo menos 10 macroprocessos. Importante destacar que o omnichannel tem em suas raízes uma contribuição incrível do e-commerce, que passou a suportar parte importante das atividades que as lojas físicas não conseguem realizar.

E-commerce e a transformação da indústria

Bom, como no e-commerce ainda temos muito espaço para crescimento, é importante citar que com o advento do D2C, muitas indústrias estão indo direto ao consumidor. Ou seja, se você achava que o e-commerce impactou só o varejo — pelas linhas que leu até agora —, saiba que esse movimento da indústria, ainda recente e pequeno no país, vai avançar muito. Mais uma vez o e-commerce sendo precursor de mudanças, agora na indústria.

Caso não saiba, o e-commerce também já abocanhou uma parcela interessante da distribuição, o B2B. Muitas distribuidoras já mudaram seu modelo de negócios, que era 100% baseado em representantes comerciais, para modelos híbridos. Nesses, os lojistas podem ser atendidos por tais representantes, mas também têm a opção de comprar diretamente online.

Não entraremos nos aspectos gerenciais e de planejamento dos negócios. Mas é preciso salientar que o e-commerce fez muita empresa repensar a formação de preços de vendas, pois tem variáveis diferenciadas, repensar compras, abastecimento e até mesmo os objetivos estratégicos do negócio. De cinco anos para cá, ouvi milhares e milhares de vezes executivos falarem que um dos objetivos de seus negócios era tornar as vendas online mais relevantes ou aumentar sua participação.

Mudança do varejo

Há 20 e poucos anos a expressa maioria dos varejistas tradicionais tinha horror em investir em tecnologia. Hoje, entretanto, o e-commerce provou que, sabendo investir em tecnologia, o retorno é certo e as possibilidades de incremento são reais. Não existe bom e-commerce que não esteja bem amparado por boas tecnologias! Hoje a relevância de grande parte das empresas varejistas está estritamente atrelada às tecnologias que detém.

Se no início de março deste ano alguém tinha dúvidas sobre o e-commerce, o advento da pandemia gerada pela Covid-19 trouxe a resposta. O isolamento social e o fechamento temporário dos negócios resultou em crescimento bárbaro das operações de e-commerce. Companhias que estavam bem preparadas — e já tinham maturidade para suportar uma mudança — têm plena certeza de que, ou você tem estratégias e operações para vender online, ou você está fora do jogo.

Pessoalmente acompanho uma empresa de roupas masculinas. Elas é super tradicional, tem tíquete médio nas nuvens, mas nunca levou adiante um projeto de e-commerce. Nos últimos 90 dias esteve totalmente fechada, sem gerar nenhum negócio, sem gerar caixa! O impacto da pandemia para essa empresa é absurdo.

E-commerce: uma questão de sobrevivência

Um dado interessante que os varejistas tradicionais sempre se apegaram muito, é que o e-commerce representa algo em torno de 5% de todo o dinheiro do varejo. Portanto, o varejo tradicional ainda detém 95%. Mas é importante observar que em abril de 2020, já durante a pandemia, a Associação Brasileira de Comércio Eletrônica (ABCOMM) registrou um crescimento de 47% nas vendas, com crescimento de 18% no tíquete médio.

Categorias como Brinquedos (434,70%), Supermercados (270,16%), Artigos esportivos (211,95%) e Farmácia (41,56%) tiveram crescimento impressionante. Isso, em um momento em que boa parte dos consumidores estava evitando comprar. Um grande player de marketplace no Brasil informou que nos primeiros 60 dias de isolamento social, mais de 5 milhões de novos consumidores — que nunca antes haviam comprado com ele — fizeram sua primeira compra no marketplace. Até mesmo os comerciantes locais adotaram estratégias digitais para vender para suas vizinhanças.

Sei que ainda é cedo para falarmos em recuperação, mas o jornal Estado de São Paulo publicou uma matéria em 19 de Abril, indicando que a retomada do varejo tradicional pode demorar dois anos. Além disso, já está evidente para muitos de nós que a pandemia fará algumas empresas de varejo ficarem pelo caminho. Se para algumas pessoas comprar online era sinônimo exclusivamente de comprar mais barato, agora já pode dizer ser um excelente canal de vendas — que oferece bons serviços, comodidade e conveniência.

O novo consumidor

A questão aqui é que o consumidor que surge no pós-pandemia está mais adaptado às compras online do que antes. Alinhado a isso, vale dizer que o e-commerce já está mais aprimorado — na maioria dos casos, pois sempre há exceções com experiências ainda ruins. Dessa forma, a facilidade com a qual as pessoas compram, trocam e devolvem as mercadorias, pode suplantar a experiência da loja física. Já ouço muitos amigos dizerem que pretendem evitar as lojas físicas no pós-pandemia. Detalhe: eles sempre preferiram comprar em loja física.

Outro ponto incrível que ecoa é a valorização dos pequenos negócios locais. Se outrora o e-commerce era restrito aos gigantes, a pandemia mostrou aos pequenos (mais impactados) que o online é um lugar ao sol. Eles podem, sim, ser muito úteis para vender para a vizinhança pelo e-commerce.

Concluo dizendo que, após assistir ao longo de mais de 23 anos o e-commerce realizar mudanças interessantes em muitos aspectos do varejo, asseguro que ele será a alavanca para a recuperação do varejo pós-Covid-19.