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Desafios para consolidar o crescimento dos marketplaces

Por: Marcelo Nicolau

Sócio da Play Studio. Mestre em Métodos de Inovação no IIT Institute of Design, com experiência em Consultorias de Inovação Internacionais, além de ministrar aulas no curso de Design de Serviços no IED (Instituto Europeo de Design).

Não é de hoje que os marketplaces ou shoppings virtuais entraram nas preferências dos brasileiros. Mas, com a pandemia da Covid-19, as vendas cresceram exponencialmente e as plataformas precisaram se adaptar de forma muito rápida para não prejudicar a experiência do consumidor.

O boom do mercado de marketplace no Brasil é recente. Sua grande expansão teve início em 2016 e segue forte. Para se ter uma ideia, em 2019, o comércio eletrônico do país como um todo, faturou quase R$ 27 bilhões — enquanto a receita do marketplace, no mesmo período, ficou próxima a R$ 18 bilhões. De acordo com pesquisa da PwC e UPS, realizada em 2020, 95% dos consumidores brasileiros que realizam suas compras dentro do ambiente virtual fazem isso por meio de um marketplace; e 44% deles afirmaram que farão mais aquisições nessas plataformas dentro de um ano.

Esse incremento está relacionado à própria situação econômica do Brasil. As elevadas taxas de desemprego registradas desde a crise de 2015/2016 levaram muitos à informalidade. Esse é um fator que, somado ao perfil naturalmente empreendedor do brasileiro, fez com que muitas pessoas utilizassem estas plataformas como forma de gerar uma renda extra.

Do lado do consumidor, há a facilidade em adquirir os produtos e serviços por um custo acessível — aliada à conveniência de receber seus pedidos em casa e à segurança fornecida pelo marketplace. Ora, remete ao usuário muito mais segurança comprar de uma plataforma do que diretamente da pessoa física.

Na conjuntura atual diante da pandemia, aumentou a procura de fornecedores por ofertar seus produtos em marketplaces. Isso, principalmente por conta do relativo baixo custo e alta efetividade. Construir uma estrutura nova e consolidá-la é algo oneroso. Não só a parte de desenvolvimento, operação e logística, como também os investimentos em aquisições de usuários.

Redes de shoppings, por exemplo, estão fazendo parceria com a Amazon para criar lojas virtuais. Nesse caso, funciona para seus lojistas utilizarem o espaço do shopping center somente para retirada de mercadorias.

Mas, a conjuntura positiva vivida pelo segmento também trouxe novos desafios a esses shoppings virtuais. Muitos marketplaces estão tendo que lidar com um crescimento acima do esperado por causa da pandemia e do isolamento social. E isso, consequentemente, implica em investimentos imediatos nas operações e remanejo de estratégias.

Este tipo de situação gerou um gargalo operacional e logístico, pois muitos marketplaces e e-commerces não estavam preparados para essa demanda. Isso resultou em uma sobrecarga na separação de produtos, faturamento e entrega. A corrida para atender à demanda multiplicada e inesperada requer a contratação de mão-de-obra extra para realização de picking e separação de pedidos, ajustes rápidos na tecnologia e novos investimentos.

Nesses casos, é importante dar mais transparência ao consumidor, a fim de evitar frustrações. Afinal, estudos mostram que a realização de status frequentes de pedidos aumentam a recompra em torno de 45%. Além disso, as plataformas devem ampliar a mão-de-obra operacional e fazer investimentos em parcerias de logística.

Cada passo, entretanto, deve ser dado de forma bem planejada. Os marketplaces devem ter em mente que, com o fim da quarentena, a tendência é de leve queda da curva de demanda. Portanto, não é uma boa estratégia ampliar custos fixos e capex demasiadamente.

Apesar das consequências terríveis dessa pandemia, o momento abriu uma oportunidade às plataformas de vendas. Elas podem se consolidar e fidelizar os consumidores tardios e atuar em um mercado muito mais amplo e maduro após a crise. Agora, com a reabertura iminente do comércio e a base de consumidores ampliada, é preciso trabalhar na frequência e fidelização desses clientes. Isso pode ser por meio do oferecimento de um serviço rápido, conveniente e acessível — de forma que se estabeleça um hábito que poderá perdurar por muito e muito tempo.