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Crise na Americanas: o que muda para os demais marketplaces brasileiros?

Por: Cláudio Dias

Co-founder e CEO da Magis5

Co-founder e CEO do Magis5, possui vasta experiência em varejo e e-commerce. Formado em Direito e com MBA, também tem uma formação consolidada em gestão e governança de empresas tech.

Vemos nos anos anteriores uma grande crescente dos marketplaces no Brasil. Isso ocorreu devido às mudanças no comportamento do consumidor que foi acelerado pela pandemia.

Porém, recentemente, a crise da Americanas S.A. tem reverberado no mercado brasileiro. Em todos os ambientes, seja em redes sociais ou em uma simples conversa de rua, o prejuízo da varejista foi um assunto em alta nas últimas semanas.

Essa discussão abre espaço para fazermos uma análise ou mesmo uma reflexão sobre quais serão os próximos passos que o mercado de e-commerce e marketplaces irá tomar. Podemos esperar a inclusão de novos players? A concentração de vendas ficará em poucas plataformas e outras irão para categorias mais nichadas?

A empresa representa um dos principais players no setor de marketplaces, e sua crise pode gerar questionamentos sobre o futuro desse mercado e como isso o afetará. Neste artigo, vamos conferir um pouco sobre o assunto e fazer um breve comparativo com o cenário internacional.

O que muda para a Americanas S.A ou mesmo para seus concorrentes?

Como o mercado age perante aos recentes ocorridos do marketplace?

Sendo um dos maiores marketplaces do país nos últimos anos, as recentes quedas em suas ações – sejam no mercado em si ou na escolha da própria marca em sair de certas campanhas, como a do Big Brother Brasil 2023, para amenizar os impactos internos – fazem com que o market share, ou seja, a sua participação no mercado de marketplaces, caia como consequência à crise.

O Submarino, que faz parte do grupo da Americanas S.A., também é um marketplace de peso no Brasil. Sua forte presença no mercado editorial através de suas ofertas de livros conta com milhares de obras e editoras em seu acervo.

Com a queda de marcas fortes no segmento anteriormente (Saraiva e Livraria Cultura), o mercado editorial se preocupa com o que está ocorrendo com a Americanas S.A., já que o Submarino faz parte do grupo. Porém, a expectativa é de que, como é um e-commerce já conhecido pelo público do nicho, ele possivelmente continuará sendo relevante.

Também temos que ter em mente que outras plataformas de e-commerce podem crescer em razão dessa crise, já que o próprio público pode migrar para outros sites por estar incerto sobre o rumo da empresa, apesar de a própria Americanas já ter informado que os pedidos feitos serão todos entregues normalmente.

Já em relação às demais plataformas de e-commerce, o mercado começou a ter um olho mais “afiado”, podemos assim dizer, para todas as marcas, mais especificamente as de marketplaces. Diariamente vemos quedas de ações de empresas desse setor, seja por conta da alta de concorrentes internacionais no país ou por causos semelhantes ao da Americanas.

A pressão e o receio do mercado aumentaram consideravelmente, e podemos questionar como isso pode impactar igualmente na distribuição de preços para o consumidor final ou nas comissões para lojistas parceiros de tais plataformas.

Contudo, os maiores impactos que toda a situação do marketplace causa são para os lojistas de sua plataforma, que ficaram receosos e preocupados, mesmo que a empresa tenha anunciado que todos os valores seriam repassados a seus lojistas, que registraram recentemente a marca de 150 mil vendedores.

Pequenas e médias empresas, no geral, que estão envolvidas como parceiros logísticos e fornecedores, igualmente sofrem com os prejuízos informados da Americanas, além de seus colaboradores – diretos ou indiretos.

Então, como os parceiros da Americanas ficam em meio a essa situação?

Em anos anteriores, o valor de suas ações já havia caído por conta de um ataque cibernético em seu site, o qual durou poucos dias, mas teve impacto durante semanas.

Não podemos comparar com a situação atual. Porém, é válido analisar como a confiança – tanto do público como de acionistas e investidores – foi abalada e, para retomá-la, foi necessário mais tempo ao público do que realmente a resolução do problema.

No entanto, atualmente, é preciso mais do que tempo, e sim formas para acalmar pequenas e médias empresas que foram afetadas pelo prejuízo atual, assim como fornecedores, transportadoras e vendedores da plataforma, além de, claro, os próprios colaboradores da Americanas.

Comparação entre o mercado brasileiro e internacional de marketplaces

E no exterior? Será que já tivemos uma crise similar à da Americanas, que tenha ocorrido em grandes marketplaces em outros países?

Vamos pegar como base o mercado nos Estados Unidos, que é uma grande referência quando falamos a respeito de e-commerce, e observarmos sua evolução ao longo do tempo.

Quais são, atualmente, os maiores marketplaces dos EUA?

A evolução do mercado de marketplaces nos Estados Unidos foi intensa e com muitas mudanças ao longo dos anos.

Alguns dos players originais, como eBay e Amazon, que mantêm sua posição de liderança, novos também surgiram e se expandiram, como marketplaces de nichos e o Walmart.

Antes de chegar ao ponto histórico, vamos ver quais são, atualmente, os cinco marketplaces mais acessados dos EUA:

1. Amazon

2. eBay

3. Wallwart.com

4, Etsy

5. Target.com

*Dados da Webretailer em relação à quantidade de acessos em dezembro de 2022.

Igualmente, nos últimos anos, a popularização dos smartphones e a tendência de compras móveis impulsionaram o crescimento dos marketplaces móveis, como o Mercari e o Poshmark. Além disso, ocorreu, no geral, um aumento desses shoppings virtuais durante o período da pandemia.

Quais marketplaces saíram ou tiveram crises nos últimos anos?

No entanto, alguns players também saíram ou tiveram alterações em seu mercado por conta de inúmeros fatores, a exemplo da expansão de outros grandes marketplaces:

– Fab (2015): Fechou devido à concorrência com a Amazon, que ampliou sua oferta de produtos de design e decoração.

– Gilt Groupe (2018): Fechou inicialmente, mas foi comprada pela companhia Rue La La e sofreu mudanças para prosseguir. A causa foi devido à concorrência com o Nordstrom e a Macy’s, que expandiram suas operações de venda de produtos de moda.

– Homejoy (2015): Fechou devido à concorrência com a Amazon, que começou a oferecer serviços de limpeza doméstica por meio de sua plataforma Amazon Home Services.

– SpoonRocket (2016): Fechou devido à concorrência com outras empresas de entrega de refeições, como o Uber Eats e o GrubHub.

Como podemos ver, marcas mais estabelecidas tiveram vantagens financeiras, de escala e de reconhecimento de marca, o que as torna mais fortes e capazes de atrair compradores e fornecedores em detrimento dos marketplaces menores.

Outros, como o Etsy, enfrentaram desafios devido à concorrência crescente, mas conseguiram se manter como players importantes. Atualmente, o Etsy continua sendo um dos marketplaces de destaque do país.

Contudo, o ponto a que devemos chegar é que há a possibilidade de o movimento dos marketplaces no Brasil se comparar, em alguns aspectos, ao dos EUA. Ou seja, que os acessos e, consequentemente, as vendas podem se restringir a menos plataformas grandes de e-commerce que concentram todos os tipos de produtos.

A Amazon não está em um nicho específico e conta com mais de dois bilhões de acessos globais, enquanto que o segundo lugar se encontra com quase 700 mil. Já o quarto e o quinto lugar dos mais acessados nos EUA, Etsy e Target, são marketplaces mais nichados.

O mercado brasileiro de marketplaces está se encaminhando para o mesmo cenário dos EUA?

O cenário brasileiro está se aproximando do americano?

Apesar da possibilidade, ainda é cedo para apontarmos que isso também ocorra no Brasil. Afinal, o e-commerce ainda tem muito para crescer em determinadas regiões do país, como norte e nordeste. O que significa mais oportunidades para certos players, podendo ser através da expansão logística, com entregas mais rápidas, centros de distribuição, entre outros. Afinal, o país possui uma cultura e uma economia diferentes das dos EUA.

Todavia, para os sellers, é ainda mais importante estar atento a esses movimentos e estar em múltiplos marketplaces para que suas vendas não se concentrem em apenas uma ou duas plataformas.

Mas não podemos descartar o fato de que, com o passar do tempo, com o estabelecimento dos líderes, a entrada de novos players pode se tornar mais difícil por conta do alto investimento e do forte reconhecimento da marca perante o público. O que igualmente pode ocasionar a saída de outros marketplaces que não acompanhem os líderes, seja por conta da forte concorrência ou por fatores mais internos que prejudicam a lucratividade de tais empresas.

Já os marketplaces de nicho são mais assertivos e crescem no Brasil, como no ramo de moda, no qual vemos a Shein ganhando muito espaço, a Elo7 com artigos mais artesanais, entre outros.

Aos empreendedores, ter conhecimento sobre sua persona e saber quais canais ela acessa os ajudarão a escolher as plataformas mais assertivas para suas vendas.

Por fim, retornando à situação da Americanas, esperamos que essa crise possa ser resolvida para que os envolvidos com o marketplace não saiam prejudicados e, como uma marca de anos de mercado, a Americanas possui um grande legado que não pode ser medido apenas com números pelo público.