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As novas possibilidades do Pix para o ambiente de negócios brasileiro

Por: Pedro Bono

CEO e cofundador da fintech Receiv, plataforma inteligente de contas a receber. Doutor em finanças pela Fundação Getúlio Vargas, EAESP-FGV, e professor de pós-graduação em finanças e gestão de risco de crédito.

Utilizando os dispositivos móveis como principal plataforma de funcionamento, o Pix abre uma possibilidade de maior flexibilização para os processos de pagamento, com transações sendo realizadas de modo instantâneo e sem oferecer custos para os consumidores.

Para as empresas que oferecem o meio de pagamento, o valor também tende a ser muito mais baixo quando comparado com os processos tradicionais de débito e crédito. Afinal, com o Pix não precisará ter, necessariamente, um intermediário (maquininhas de cartão, bandeiras de crédito e débito, adquirentes) para além do agente financeiro (banco) em que a empresa possui conta e cadastrou suas chaves do Pix.

Sobre este ponto, ressalto que o BC não define as taxas cobradas pelos agentes financeiros e tal cobrança é opcional. Neste sentido, o mercado tem discutido a possibilidade, inclusive, de uma futura “guerra de tarifas” com bancos cobrando valores mínimos ou mesmo eximir seus clientes jurídicos de tais custos, tendo em vista a fidelização.

Oportunidades e soluções do Pix

Por sua vez, quem comercializa produtos e serviços pode — justamente pelo baixo custo do sistema — estimular pagamentos por meio do Pix. Neste caso, criando pacotes de benefícios para seus clientes. É um fator que, em alguma medida, também tem potencial para impulsionar a competitividade no mercado. Isso porque os consumidores poderão, por exemplo, buscar aqueles estabelecimentos com os pacotes de incentivo mais vantajosos para o uso do Pix.

A solução de pagamentos se posiciona também como uma alternativa direta em relação às transferências via DOC ou TED. Tudo indica que será uma possível popularização das transferências como meio de pagamento. Afinal, com a sua sistemática de transação em tempo real, em qualquer horário ou dia da semana, o Pix não afeta o fluxo de caixa diário das empresas. E, além disso, oferece mais uma alternativa de pagamento para os consumidores, inclusive por meio da simples leitura de um QR code. 

Em síntese, é possível que o Pix contribua para a construção de novas dinâmicas na forma como empresas oferecem produtos e serviços. Ele permite ainda novas experiências de pagamento e o desenho de alternativas para a fidelização dos consumidores.

O lado das instituições financeiras

De modo semelhante, como observado anteriormente, é possível que vejamos uma maior competitividade entre as instituições financeiras. Elas poderão oferecer pacotes de serviços mais vantajosos e descontos sobre as taxas do Pix, visando fortalecer a relação com suas bases de clientes.

Vale observar que, de acordo com lista oficial apresentada pelo Banco Central no último dia 22 de outubro, o Brasil já conta 762 instituições financeiras habilitadas para operar o Pix. E tal interesse não é por acaso. Segundo levantamento da consultoria Boanerges & Cia, em 2030, os pagamentos instantâneos já devem ser responsáveis por pelo menos 15% do consumo privado — ou R$ 831 bilhões em movimentações financeiras, conforme a estimativa. 

O que nos reserva o futuro?

Para concluir, ainda não é possível estimar em qual período — se curto, médio ou longo prazo — o Pix pode vir a assumir esse protagonismo entre os meios de pagamento utilizados no ambiente de negócios brasileiro. Os pontos aqui levantados levam em conta o potencial da ferramenta e o que vem sendo discutido em meios especializados sobre o tema.

O mercado conta, ainda, com todo um desafio educacional para a popularização de um sistema que começa a dar seus primeiros passos no país. Vale frisar que o Pix ainda é desconhecido por 58,9% do e-Commerce e por 57% da população brasileira que não utiliza canais digitais para operações bancárias (os dados são, respectivamente, da E-Commerce Brasil e da consultoria Bain & Company). Também precisaremos acompanhar o processo de implantação do Pix no mercado para, só então, mensurar, de modo mais preciso, seu real impacto na construção de novas dinâmicas de consumo.

O que se sabe, por fim, é que o sistema financeiro global está em plena transformação e novos modelos de pagamento têm surgido. Isso inclui os pagamentos instantâneos, que já estão em fase de implantação ou são uma realidade em mais de 50 países. Tudo contribui para que este se torne mais ágil, dinâmico e diversificado para consumidores e empresas.