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Aceleração digital: pela Covid-19 ou pela experiência do cliente?

Por: Luiz Fernando Ruocco

Nasceu no interior paulista, na pequena cidade de Águas de Prata. Em 2007, ingressou na Universidade Federal de São Carlos (UFScar) no curso de Engenharia de Materiais. Em 2014, entrou na Raccoon, onde ficou por cinco anos e por lá passou de estrategista de contas até gerente de marketing e mídia, sendo responsável por gerenciar os maiores clientes de varejo e sendo pioneiro na implementação de omnichannel em seus clientes e no Brasil. Em 2019, foi para outra empresa do Grupo Raccoon, a agência full digital Rocky - selecionada em 2021 como a quinta melhor empresa para trabalhar entre as Agências de Comunicação. Por lá, ajudou a transformar o time inicial de dez pessoas que hoje conta com mais de 250 colaboradores. A empresa se fundiu ao grupo S4 Capital, holding de publicidade digital fundada por Sir Martin Sorrell, passando a se chamar Rocky.Monks por um tempo, até a unificação das marcas Media.Monks no Brasil, quando assumiu como Manager Director em Sorocaba.

Que a Covid-19 está obrigando diversos negócios a se digitalizarem não é nenhuma novidade. Isso de fato é um fruto positivo de todo esse momento difícil, mas infelizmente esse benefício pode não perpetuar. A questão não é a obrigação em si, mas a forma como a experiência acontece que determina se aquela ação será longeva ou não. Entendo que qualquer proposta funciona quando tem a experiência do cliente no centro da ação, tendo o faturamento como uma consequência disso, mas não como o objetivo central. Caso contrário, o modelo não se sustenta, porque o cliente se afasta. Vou usar um exemplo pessoal e, posteriormente, aplicá-lo à lógica da digitalização.

Quando eu era pequeno, minha mãe, sempre muito rígida, me obrigou a fazer diversos cursos, entre eles natação e teclado. Em princípio, eu detestava os dois. No entanto, com o passar do tempo, fui tomando gosto pela natação a tal ponto que que pratiquei esse esporte durante anos, até a fase adulta. Já o teclado eu continuei odiando e tão logo consegui convencer minha mãe, interrompi as aulas. O que determinou meu sucesso na natação e meu fracasso no teclado não foi a obrigação de cursar ambos, mas a experiência durante as aulas. A natação simplesmente flui, era personalizada para mim.

Digitalização e a experiência

É exatamente aqui que entra a digitalização. Não é a obrigação de se digitalizar que vai garantir faturamento ao seu negócio. Será a experiência que você vai oferecer ao seu cliente por meio da digitalização que vai determinar se essa estratégia vai dar certo ou errado para você.

Na prática, é evidente que o primeiro impulso de toda a empresa seja buscar faturamento. Nessa crise, aqueles que não operavam no mundo online estão buscando se adaptar o mais rápido possível. No entanto, o retorno financeiro estável só é viável quando toda a operação está focada na necessidade do cliente.

Para melhor exemplificação do tema, é importante separar nossa abordagem em duas estratégias:

  • Provisória – que vai suprir as necessidades somente durante o período de pandemia;
  • Mudança de mindset – contempla uma mudança real do modo de pensar e agir e, portanto, perpetua mesmo depois da crise.

Provisória

No caso da provisória, basta colocar seus serviços ou produtos disponíveis na internet, e pronto. Seu cliente provavelmente vai entender que se trata de um período passageiro, que a experiência de compra está ruim devido à sua correria para se adaptar, mas que, logo que tudo volte ao normal, ele vai acessar você da mesma maneira que sempre acessou: no mundo off. Dessa forma, você empreendedor se vira na pandemia, mas não usufrui do legado de ampliar seus canais de venda e assim captar novos clientes, encantá-los com uma nova experiência e, aí sim, potencializar seu volume de negócios e faturar mais.

Mudança de mindset

Agora, se sua proposta é realmente mudar seu mindset e realizar uma profunda transformação digital no seu negócio, essa é uma excelente oportunidade para médio e longo prazo. O consumidor é cada vez mais omnichannel. Ou seja, busca viver experiências de compras semelhantes e completas, seja no mundo on, seja na loja física. Muitas vezes, ele pesquisa na internet para comprar na loja física, ou vai até a loja física para ter contato com o produto, mas compra no site.

Outra grande vantagem do processo de transformação digital são os dados que o cliente invariavelmente deixa durante a navegação dele na internet. Há informações preciosas, preferências dos clientes que podem te surpreender e até alterar a estratégia da loja física. De modo que ambos os canais funcionem como uma coisa só, totalmente integrados. Já é assim para muitas empresas e essa tendência é irreversível.

Frequentemente escuto empreendedores afirmando que agora é a hora de se digitalizar, de fazer um app, um ERP, um CRM. Dessa forma, tentam matar uma formiga com uma bazuca, além de acreditarem que o uso de uma determinada ferramenta é a solução para tudo.

Comece pela experiência

Por isso, é muito importante que a transformação digital se dê pela experiência do cliente e não pela crise causada pela Covid-19. Concordo que essa é uma situação que escancarou a fragilidade das empresas no mundo digital, mas esse ponto fraco não se refere somente a este momento que estamos passando, mas sim a uma falta de priorização a um assunto que é sim prioridade de qualquer negócio: digitalização.

Tudo o que fazemos em nosso negócio tem que ter o cliente no centro. Hoje, o cliente espera nos encontrar e ser atendido com excelência em diversos canais, o que inclui obviamente o ambiente online. Que essa seja uma grande oportunidade para os empreendedores acordarem para uma realidade inevitável: a transformação digital é uma exigência do cliente e veio para ficar.