Eu tenho certeza de que você já foi a única mulher em uma sala de reunião. A trajetória profissional feminina é marcada por desafios que se renovam a cada geração, e o caminho até a liderança ainda é permeado por barreiras invisíveis – e outras bastante explícitas. O que antes era um esforço individual para provar competência e ocupar espaços hoje precisa ser visto como uma questão estrutural: não basta que mulheres cheguem a posições de destaque, é essencial que as empresas se comprometam a criar condições reais para que isso aconteça de forma consistente e sustentável.

Ao longo da minha carreira, vi de perto como a diversidade – ou a falta dela – impacta as decisões estratégicas de um negócio. Comecei minha trajetória na publicidade e, com o tempo, fiz a transição para o setor de pagamentos. Setores distintos, mas que compartilham a necessidade de contar histórias, resolver problemas reais e criar um impacto tangível na vida das pessoas. Isso só é possível quando há pluralidade de vozes e perspectivas dentro das empresas.
O último Censo, divulgado em 2024 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que mulheres ocupam menos de 40% dos cargos de liderança, mesmo representando mais da metade da população brasileira (51,5%). E por mais que a desigualdade salarial tenha diminuído, ainda há uma disparidade de 21,1%. Esse cenário só reforça que há uma longa trajetória a ser percorrida e exige responsabilidade corporativa em fomentar equidade real a partir de medidas que, de fato, transformem essa realidade.
O compromisso corporativo com a equidade de gênero
Eu já estive em muitas reuniões em que era a única mulher na sala. No início, o desconforto era evidente, e a sensação de precisar provar meu valor a cada palavra era constante. Com o tempo, compreendi que estar ali não era um acaso – e que questionar, propor novas abordagens e desafiar padrões eram não apenas direitos, mas deveres. Foi essa postura que me permitiu crescer e, hoje, liderar a Adyen na América Latina.
No entanto, não basta apenas ser um exemplo. O verdadeiro impacto acontece quando conseguimos transformar essa experiência individual em ações concretas que mudam o cenário de forma ampla. Por isso, acredito que as empresas precisam assumir um compromisso real com a equidade, adotando medidas que garantam a ascensão feminina de maneira estruturada. Na Adyen, fazemos isso por meio de iniciativas como metas numéricas de presença feminina em diferentes cargos, políticas de equidade salarial, programas de mentoria e o grupo de afinidade Women at Adyen. São passos essenciais para que o avanço feminino na liderança deixe de ser exceção e se torne a norma.
Além disso, é necessário abandonar a ideia ultrapassada de que a liderança feminina precisa se moldar a padrões tradicionalmente considerados “adequados”. Durante muito tempo, nos fizeram acreditar que para ocupar posições de comando era preciso adotar uma postura rígida, distante e, muitas vezes, implacável. Eu discordo. A liderança que pratico e incentivo é baseada na autenticidade, na empatia e na capacidade de equilibrar visão estratégica com execução. Essa abordagem não apenas fortalece equipes, mas gera melhores resultados.
O que está em jogo aqui não é apenas representatividade, mas transformação cultural e impacto nos negócios. Estudo da McKinsey mostrou que empresas que investem em diversidade de gênero têm 27% de chance de serem mais lucrativas. Portanto, não se trata de abrir espaço para mulheres “apenas” por uma questão de justiça social – embora isso seja essencial -, mas também de compreender que um ambiente corporativo plural está mais preparado para o futuro.
Se há algo que aprendi ao longo da minha trajetória é que liderar vai além do individual. Cada mulher que chega a uma posição de destaque abre caminho para muitas outras. E esse é um compromisso que levo comigo: não apenas ocupar espaços, mas garantir que eles sejam acessíveis a todas que venham depois. O futuro dos negócios pertence a quem souber construir ambientes verdadeiramente diversos e transformadores. E nós, mulheres, seguiremos garantindo que esse futuro nos inclua.