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Ainda existem mercados a se explorar pela internet?

Por: Pedro Padis

Atuando desde 2010 com mercado digital, e-commerce e omnichannel, Pedro Padis é atualmente CEO e Sócio da Gourmetzinho Alimentos, empresa especializada em alimentação infantil congelada. Com histórico de head de E-commerce do Grupo Aste, coordenou grandes operações de marcas globais como New Balance, Kipling, Diesel entre outras. Ainda traz denso background em varejo, tendo passagens por Dia% e Walmart

É inegável que hoje encontramos quase tudo que procuramos na internet. Se não compramos, usamos o Google, marketplaces e outras ferramentas para pesquisar preços e saber onde encontrar no mercado. Mas, na grande maioria das vezes, o custo e a comodidade nos fazem concluir a compra pela própria loja digital.

Porém, é provável que, quando você está buscando algo muito específico, ainda tenha alguma dificuldade de encontrar um revendedor online. Nesses casos, a primeira coisa que nos passa pela cabeça é que estamos buscando algum produto de um nicho muito pequeno.

Mas nem sempre é esse o cenário. Às vezes, não encontramos um produto porque nossa infraestrutura logística e nossa concentração de mercado não nos permitem oferecer itens e serviços específicos.

Você já pensou em comprar suco natural fresco, sorvete, iogurte, queijos ou até comida congelada na sua casa? Talvez, para quem more no eixo Rio-São Paulo, essa seja uma realidade mais presente, mas, para quem mora longe desses centros, existe uma escassez desse tipo de oferta.

Como são demandas menores, não vale a pena montar uma operação regional para atender a outros estados. Porém, o motivo é maior: não temos uma malha logística que atenda porta a porta os consumidores com produtos de cadeia refrigerada ou congelada.

É claro que se pegarmos um grande supermercado, provavelmente, ele vai oferecer esse serviço, pois dispõe de diversos hubs de atendimento. Mas se analisarmos algumas startups, como a Green People (sucos prensados a frio refrigerados) ou a sorvetes Naked (picolés naturais), essas marcas são obrigadas a escolher cidades em que irão atender.

Mesmo a cadeia de produtos congelados, que normalmente oferece um prazo de validade mais estendido, não consegue viabilizar custos para atender a certas demandas. Já imaginou quanto sairia o frete se comprasse R$ 100 em sorvetes, com sua encomenda partindo de São Paulo e sendo entregue em Manaus? Mesmo para o interior do estado, o frete já representaria mais de 50% do valor das mercadorias.

Mas, então, como desenvolver esse mercado? Mercado esse que, devido a todos esses obstáculos, representa apenas 1,5% das vendas totais do varejo pela Internet, enquanto a média de mercado está entre 4% e 4,5%. Mas mais do que isso, é um mercado que cresce mais lentamente que o restante do e-commerce.

Uma grande saída é o que tem feito o Supermercado Now, que, de forma genérica, é uma mistura de marketplace de supermercados com atendimento do Rappi. Ou seja, você coloca o CEP da sua casa e identificará o ponto de venda mais próximo. Fará sua compra, e um shopper trará sua encomenda em até duas horas. Assim, é possível oferecer praticamente todos os produtos de um mercado, mas criando diversos pontos de retirada de produto.

No entanto, e se você tiver uma operação própria, como fazer? Uma solução relativamente simples e barata é criar franquias virtuais, nas quais o franqueado não precisa obrigatoriamente dispor de um ponto de venda. Ele fica responsável apenas pela gestão das mercadorias, controle de pedidos e entrega em uma determinada região. Assim, consegue otimizar o frete e entregar pedidos periódicos e centralizados.

Quem operada nesse modelo, por exemplo, é a empresa especializada em alimentação infantil Gourmetzinho, que tem sua primeira distribuidora na cidade do Rio de Janeiro. Com uma operação completamente digital, ela destina toda sua venda captada pelo site para o distribuidor do Rio, aumentando assim sua capilaridade.

Por fim, existe outra possibilidade que já é explorada por diversos e-commerces tradicionais. São os centros de distribuição compartilhados, nos quais empresas que dividem a mesma cadeia logística usam o mesmo hub e a mesma frota para fazer sua distribuição. Entretanto, as empresas que necessitam de cadeias logísticas congeladas e refrigeradas ainda não tiveram a iniciativa para se organizar e criar esse tipo de economia compartilhada.

Muitos ainda apostam que esse nicho de mercado é bastante promissor, como o centro de distribuição Pier 8, que está iniciando, junto com a Yorgus (empresa de iogurtes naturais), distribuição para a grande São Paulo. Mesmo a Amazon ainda busca uma solução otimizada para esse tipo de serviço. Ou seja, existe um grande número de players atrás desse pote de ouro.

Entretanto, considerando que nossa legislação impõe um fator complicador chamado logística reversa em uma cadeia tão complexa, é difícil de acreditar que alguma empresa consiga fechar as contas em um curto período. Assim, cada companhia que se aventurar por essa estrada terá que remar sozinha e encontrar seu próprio caminho para conseguir atender seus clientes e explorar na plenitude o potencial do e-commerce brasileiro.

Artigo publicado, originalmente, na Revista E-Commerce Brasil