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Transporte, o calcanhar de aquiles do e-commerce

Por: Diego Machado

É economista e especialista em Logística & Supply Chain pela FGV. É sócio-diretor da Parallaxis Consultoria, responsável pela Área de Logística e Infraestrutura. Trabalhou em multinacional do mercado financeiro e empresas nacionais desenvolvendo Análises Econômicas e Setoriais e na Área de Projetos em Logística e Transporte para empresas (e-commerce).

E-commerce: crescimento acima do varejo tradicional

O mercado de e-commerce brasileiro, entre 2006 e 2013, evoluiu de forma bastante intensa, tanto no número de e-consumidores (51,3 milhões em 2013 – Aumento de 633%), e no volume de pedidos (88,3 milhões – Aumento de 489%), bem como no faturamento do setor que expandiu 555% no mesmo período, alcançando taxa média de crescimento anual de 31% (dados: E-bit). Em relação à taxa de crescimento da receita o e-commerce tem apresentado resultados mais expressivos em relação ao varejo tradicional (loja física), dado que este apresentou média de crescimento anual de 12,5% nas receitas do setor no mesmo período analisado de acordo com dados do IBGE.

Alguns fatores podem justificar essa performance superior do segmento e-commerce, tais como:
i) maior número de residências com computadores e internet;
ii) maior confiança do e-consumidor na realização de compras on-line;
iii) maior diversidade e segurança nas transações monetárias eletrônicas;
iv) novos consumidores – ascensão da classe C e D; etc.

Calcanhar de Aquiles do e-commerce (infraestrutura e transporte):

O desempenho das vendas no segmento e-commerce vai muito bem, obrigado. Porém, o índice de reclamações das empresas tem acompanhado, sobremaneira, esse crescimento, tendo como principal causa problemas alocados na operação e realização de serviços de transporte. As questões referentes ao descumprimento do prazo de entrega, produto em inconformidade com o pedido, mercadoria avariada, deixam um grande ponto de interrogação na cabeça do e-consumidor na hora de escolher qual loja virtual ele deve realizar a compra.

Pode-se atrelar esse aumento do número de reclamações aos gargalos logísticos causados pela ineficiente infraestrutura do Brasil, representado pelo elevado custo logístico do nosso país, que representa cerca de 10% do PIB brasileiro, sendo que aproximadamente 7,1% se refere ao serviço de transporte, refletindo portanto de forma direta na operação das empresas de transporte.

Associado a esse gap de infraestrutura também convivemos com grande número de empresas de transporte com background incompatível com as necessidades para atuar no segmento de carga fracionada (courier), porém se intitulam como “totalmente aptas” a tal prática mesmo não dispondo de estrutura especializada para realização da tratativa dos pedidos on-line, de forma que não conseguem acompanhar o vultoso crescimento da demanda do mercado virtual, o que acaba afetando os processos operacionais e de distribuição, gerando, assim, maior disparidade entre o Fluxo Informacional (compra do produto) e o Fluxo Físico (entrega do produto).

Onde quero chegar:

A criação de um cenário otimista, no que tange a mitigação do risco na realização do serviço de transporte, permite que o segmento e-commerce passe maior confiança e credibilidade ao e-consumidor, de forma que consiga expandir vendas e atingir patamares de desenvolvimento ainda mais elevados, convergindo em ganhos para empresas, sociedade e economia como um todo.

Em suma é necessário que as empresas de e-commerce realizem um detalhado estudo sobre as empresas de transporte que irão ser incorporadas na sua operação, no que se referem a questões estruturais, financeiras e operacionais, para que haja maior sinergia entre embarcador e transportadora, criando parcerias estratégicas a fim de garantir melhor nível de serviço e atendimento aos seus clientes.