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Onde a economia digital está evoluindo mais rapidamente?

Por: Gabriel Lima

CEO da Enext. Formado em Publicidade e Propaganda pela ESPM, com mestrado em Administração de Empresas pelo Insper. Entre os anos de 2017 e 2020, foi representante do Brasil na Unido e também é autor dos livros Comércio Eletrônico: Melhores Práticas do Mercado Brasileiro e Líderes Digitais.

A transição para uma economia digital global, em 2014 foi bastante divergente ao longo do globo – afiada e estimulante em alguns países e bem fraca em outros. Ao final do ano, os 7 maiores mercados emergentes foram maior do que o famoso G7, no quesito de poder de compra.

Além disso, consumidores na região da Ásia-Pacífica são esperados para gastar mais online do que os consumidores da América do Norte. As oportunidades para servir os consumidores online também estão crescendo, é só procurar no lugar certo.

O ritmo de mudança no e-commerce é muito maior do que “China” ou mesmo “Ásia”. Longe do Vale Silício, Xangai ou Cingapura temos a alemã Rocket Internet – 100% ocupada em lançar start-ups por todo o mercado emergente.

A empresa explicitamente tem como objetivo se tornar a maior plataforma de internet fora dos EUA e China. Muitas das ‘empresas Rocket’ estão caminhando para serem as futuras Amazons e Alibabas para o resto do mundo: a Jumia por exemplo, domina 9 países no continente africano; ou a Namshi que é a principal empresa no Oriente Médio; além de nomes como Jabong na Índia, Zalora no sudeste asiático; e a Kaymu, referência em mais de 30 mercados no planeta.

Investimentos privados estão sendo concentrados em certos mercados de modo similar ao que aconteceu no Vale do Silício. Durante o verão de 2014, somente na Índia o e-commerce recebeu US$3 bilhões de investimentos, onde além dos inovadores Flipkart e Snapdeal, há mais de 200 start-ups de comércio eletrônico numa onda de investimentos privados para crescimento do mercado.

Isso está acontecendo em um país onde a gigantesca maioria de lojas operam com uma forma de pagamento bastante peculiar, que é a do pagamento feito em dinheiro no momento da entrega. No país, cartões ou soluções como Paypal são raramente utilizadas, inclusive de acordo com o ‘Reserve Bank of India’, 90% das transações indianas são feitas via dinheiro.

Muitos países emergentes, sofrem com essa alta dependência da moeda, como a Indonésia e a Colômbia, mas mesmo com essas dificuldades em pagamentos, em mercados onde o papel-moeda é rei as lojas virtuais estão se redesenhando em alta-velocidade. Nesses casos específicos, os e-commerce que são mais ágeis e inovadores, simplesmente começaram a trabalhar com dinheiro e criaram outras opções de pagamento.

Para entender melhor sobre essas mudanças ao redor do globo, foi desenvolvido pela Harvard um Índice a fim de identificar como um grupo de países são dispostos em relação a outros, em termos de amadurecimento para a economia digital.

Chamada de DEI (Índice de evolução digital), criado pela Universidade de Tufts, o índice é formado por 4 indicadores: fatores de demanda (comportamento do consumidor, tendências, conhecimento do povo sobre internet, mídias sociais e mercado), fatores de oferta (infraestrutura operacional como acessibilidade, confiabilidade, meios de pagamento), inovação (empreendedorismo, ecossistema tecnológico e investimentos, presença e extensão de forças disruptivas) e instituições (principalmente regulações governamentais e a sua presença no mercado).

O resultado do índice é composto por 50 países que foram escolhidos baseado em quantidade de usuários de internet: são casa dos 3 bilhões de usuários já presentes no mundo digital ou serão onde o próximo bilhão de usuários mais provavelmente estarão.

Como parte da pesquisa, entender quais países estão avançando rapidamente para o amadurecimento do mercado de e-commerce e quem não. Talvez não muito surpreendente, os países em desenvolvimento na Ásia e América Latina estão liderando em momentum, refletindo as suas médias de crescimento econômico.

Porém a análise revelou outros padrões interessantes, por exemplo a Cingapura e a Holanda. Ambos estão entre os 10 maiores países em termos de presença digital, contudo considerando o momentum (2008-2013) os dois países estão longe.

A Cingapura está estável em seus avanços no desenvolvimento de uma infraestrutra digital multinacional, devido as parcerias privadas conseguindo se fortalecer firmemente como hub comunicacional da região.

A Holanda, por sua vez, está perdendo combustível rapidamente. As medidas austeras do governo holandês, iniciadas no final de 2010 que reduziram os investimentos em elementos do ecossistema digital. O mercado está empacado e com o tempo correndo e demanda por consumidores, estão levando os investidores à pastos mais verdes.

Baseado no desempenho dos países do índice durante os anos de 2008 e 2013, eles foram colocados em uma de 4 posições de trajetória:

Stand Out: países que demonstraram altos níveis de desenvolvimento digital no passado e continuam em sua trajetória ascendente

Stall Out: países que já atingiram um alto nível de evolução no passado mas estão perdendo o momentum e estão em risco de ter seu crescimento estagnado

Break Out: países que possuem o potencial de desenvolver uma economia digital muito forte. Embora suas pontuações ainda são relativamente baixas, eles estão crescendo e provavelmente se tornarão ‘Stand Out’ no futuro.

Watch Out: países que estão enfrentando oportunidades e desafios significantes, com baixas pontuações tanto em evolução de mercado quanto momentum. Alguns talvez consigam superar algumas limitações com inovações e medidas agressivas, enquanto outros parecem estar estagnados.

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Os países ‘Break Out’, como a Índia, Brasil, China, Vietnã e Filipinas estão amadurecendo seu mercado digital a passos largos, vontudo a próxima etapa de crescimento é difícil de atingir.

Manter-se nessa trajetória significa enfrentar desafios como otimização de infraestrutura de demanda e criar vínculos sofisticados nos consumidores.

Os países ‘Watch Out’, como a Indonésia, Rússia, Nigéria, Egito e Quênia possuem coisas importantes em comum, como incertezas políticas e um povo com baixo comprometimento para reformas.

Contudo esses países possuem uma ou duas qualidades que se destacam fortemente, predominantemente demográficas – Isso os tornam atrativos para negócios e investimentos, mas é necessário despender muita energia para driblar as diferenças políticas e dificuldades de infraestrutura.

Acabar, ou ao menos minimizar, esses problemas permitiria que a energia criativa desses países/investidores fosse direcionada para usos mais produtivos.

A maioria dos países do Ocidente europeu, a Austrália e o Japão estão na área de ‘Stall Out’. O único caminho para a volta do crescimento deles é o de seguir o que os países ‘Stand Out’ fazem de melhor: duplicar a inovação e continuar a procurar mercados além das fronteiras de casa.

Esses países estão envelhecendo, talvez importar jovens criativos pode ajudá-los a reviver a inovação mais rapidamente

O que o futuro nos reserva? O próximo bilhão de consumidores que chegarão ao mundo digital provavelmente farão suas compras em um aparelho móvel – em oposição com as práticas do primeiro bilhão, que ajudou a construir as tantas fundações da atual indústria de comércio eletrônico.

Ainda existirão as fortes influências da internacionalização com a evolução do mercado competitivo: mesmo se a Europa diminuir sua velocidade de crescimento, somente uma empresa como a Rocket, poderá crescer por focar seu desenvolvimento em mercados emergentes; gigantes dos mercados emergentes, como o Alibaba, com seus fundos e recursos procurarão por mercados em outros lugares e os anciões da tecnologia como a Amazon e Google procurarão seu crescimento em novos mercados e/ou segmentos de produtos.

As economias emergentes ainda sim continuarão a evoluir gradualmente e diferentemente, assim como seus mais novos consumidores. Os negócios terão que inovar por customizar suas estratégias para esse mundo multi-conectado e driblando todas as complicações, sejam elas de infraestrutura ou regulamentares, de mercados desconhecidos: particularmente em países que são as casas do próximo bilhão de consumidores.