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O que o mercado brasileiro espera das novas startups?

É muito provável que o nosso cenário econômico para 2015 seja de estagflação, ou seja, baixo crescimento, inflação alta e, consequentemente, se o Banco Central continuar perseguindo alguma meta de inflação, juros altos. Temos uma exaustão do modelo de crescimento baseado em crédito e consumo, com aumento do endividamento das famílias e alto preço da energia. Pode parecer uma má notícia a princípio, mas esse contexto forma um mar de oportunidades para os empreendedores, que devem sempre buscar dores a serem resolvidas, grandes mercados e margem. Com isso, seguem algumas áreas em que considero boas hipóteses para novas startups no Brasil:

Educação: um dos pilares da nossa baixa produtividade, o setor de educação no Brasil é um problema antigo e, talvez, o mais importante. A má qualidade no nível mais básico causa a longo prazo uma grande escassez de desenvolvedores e engenheiros, por exemplo. Neste sentido, startups que considerem formas de aplicar a educação à distância móvel, adaptativa e “gamificada” têm uma dor bastante importante a ser resolvida, um mercado grande e margem. Vale pensar no assunto.

Grandes mercados têm a ver com grandes múltiplos e recorrência. Qualquer modelo de negócios que mire nas milhões de crianças que estão no ensino fundamental, por exemplo, atende estes dois quesitos. Um exemplo de problema que merece ser considerado pelas novas startups nesta área é a dificuldade que pais têm para achar escolas para seus filhos com menos de seis anos. O processo é complicado: os pais têm que visitar escolas, uma a uma, e avaliar diversas características e atividades, além de ter que se preocupar com vagas e processos seletivos.

Startups que pensem em soluções para este problema e conectem mais facilmente as escolas aos pais, unificando o processo de inscrição de alunos na primeira escola, por exemplo, também podem ser uma boa aposta.

Saúde: outra ineficiência bastante relevante no Brasil refere-se ao campo da saúde. O mercado de planos de saúde, por exemplo, é “super regulado”, com problemas de margem e muitas vezes pautado por relações conflituosas com o cliente. Com o esvaziamento das agências reguladoras, é um ótimo campo para procurar ineficiência. Em setores como o de Telecom, esse problema gerou o conceito de MVNO (Mobile Virtual Network Operator); em serviços financeiros, gerou iniciativas como o BankSimple no exterior e agora o NuBank no Brasil. Uma estrutura leve e barata de bom atendimento pode funcionar bem “por cima” da estrutura de planos de saúde atual.

A questão de marcação de consultas, exames e prontuários digitais também é outra área que merece atenção das startups de tecnologia. Iniciativas neste sentido ainda são poucas e pouco exploradas, cabem concorrência e novas ideias. Para terminar, apenas 24,7% dos brasileiros têm planos de saúde, de acordo como IBGE. Uma startup que ofereça ideia de “fast health” ou clínicas particulares de baixo custo em locais de grande fluxo e estruturas de autoatendimento de baixo custo baseadas em web e mobile pode incluir a outra grande parte da população.

Mercado imobiliário: vivemos um período de aumento da inadimplência, que cresceu 17,2% no último ano, e de endividamento das famílias brasileiras, que chegou a 63,4% no início de 2014 de acordo com a CNC. Segundo uma pesquisa recente, houve aumento de 40% no número de devoluções de imóveis comprados na planta. Neste contexto, pode ocorrer um processo de incapacidade das famílias de pagarem seus contratos de financiamento imobiliário. Alguém que facilite a reestruturação desses contratos e renegociação da dívida ou a revenda desses imóveis talvez esteja no lugar certo e na hora certa.

Serviços financeiros: mesmo que seja uma área de muito difícil acesso, seria bom que alguém revisitasse a área de bancos, cartões e seguradoras, atacando a ideia de que não é possível fazer um BankSimple e um Stripe no Brasil. Talvez a criação de alguma estrutura que funcione “por cima” dos bancos que já existem, como um banco para determinada classe social, por exemplo, ou em um local que seja mal atendido, não seja tão impossível assim. A Sequoia Capital, por exemplo, investiu recentemente US$ 14,3 milhões no NuBank, que quer explorar esse nicho.

Mobilidade urbana: Apesar do nosso recente ciclo de startups de tecnologia ter sido muito calcado em e-commerce, a dor desse tópico é enorme e já existem casos de sucesso de empreendedores no Brasil e fora do país. O Moovit conseguiu aumentar a eficiência dos transportes públicos por meio da sincronização, com o Waze já é possível andar melhor no trânsito de carro, o EasyTaxy ajudou a melhorar o mercado de táxis e o Uber reduziu drasticamente o tempo de cada “chamada”. Todas elas começaram a resolver o problema, mas ainda existe ineficiência a ser combatida e espaço para novas ideias.

Soluções hiperlocais: qualquer modelo de negócio baseado em conectar pessoas tem um problema de contexto. O número excessivo de “matchs” no Tinder, por exemplo, pode ser tão ruim quanto a falta deles. O processo de matching, puro e simples, baseado em raios de quilômetros, é muito ineficiente. Neste sentido, é possível disruptar esse mercado de seleção, encontros e relacionamentos restringindo nichos e criando redes especiais de pessoas que já estão fisicamente ligadas.

Emprego: além da dificuldade de identificar e contratar bons profissionais por problemas na educação como um todo, existem também aqueles trabalhadores que tomaram uma decisão de carreira há 10 ou 20 anos e cujo setor não está mais em ascensão, mas são ótimos profissionais. Requalificar estes trabalhadores de forma adaptativa, à distância e gamificada, considerando micro certificados e atrelando a um negócio de recolocação, fecha um ciclo. Você investe em qualificação, consegue um novo salário maior e tem um retorno melhor que deixar seu dinheiro no banco. Conectar empregadores a bons empregados é um desafio que o mercado está em busca de resolução.

Big data, internet das coisas e impressão 3D: por fim, existem áreas que já estão avançando em outros países, mas ninguém ainda assumiu o controle aqui no Brasil. Vale a pena considerar essas novas tecnologias como forma de disruptar mercados e criar novas ideias para empreender. Ineficiências e carência de serviços de qualidade o Brasil tem. Cabe aos novos empreendedores as ideias para mudar esse conceito e evoluir.

Esse texto foi inspiração para a matéria “7 áreas que as startups podem explorar em 2015″, publicada em 1/12 na Exame.com. Confira aqui.