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Cadeia de pagamentos: como uma transação é processada?

Por: Daniel Bento

Diretor de meios de pagamento da Associação Brasileira de E-commerce (ABComm), CO-Fundador do Antifraude Konduto.com, professor do ICF e da CommSchool, proprietário da empresa de consultoria Delta Bravo e Sr Advisor da Moviu.com.br

Todo mundo conhece a mecânica de pagar com cartão. Você insere-o na maquininha, digita a sua senha e, em alguns segundos, tem uma resposta. O movimento é feito tantas vezes no dia que nem percebemos mais o que estamos fazendo.

Agora, você já parou para pensar o que acontece com os dados do cartão de crédito durante estes segundos, do momento que em o cliente coloca a senha até a máquina cuspir aquele papelzinho encaracolado?

A transação faz uma verdadeira volta ao mundo e passa por várias instituições que participam da cadeia de pagamentos eletrônicos, antes de voltar para o estabelecimento comercial. Veja abaixo por onde ela passa e quem faz o que:

A máquinha (POS) pertence a uma adquirente, uma empresa especializada em processar a “última milha” da transação que vem do estabelecimento comercial. Aqui no Brasil temos hoje a Cielo, a Rede, a GetNet/Santander, Elavon e 2 outros entrantes: Stone e a FirstData, isso só para falarmos das nacionais.

A maquininha, equipada com um chip 3G ou ligada à linha telefônica, remete o pedido para um servidor central que iniciará o seu processamento. As vantagens de ter alguém fazendo essa “ultima milha” são inúmeras, mas talvez a mais simples de entender seria a de que juntar todo mundo em um canal só evita a necessidade de ter uma máquina para processar um cartão Bradesco Visa e outro Bradesco Mastercard por exemplo. Já imaginou quantas maquinetas uma padaria precisaria sem essa união no ponto de venda?

O adquirente recebe a informação e manda para a bandeira. Ela é a marca do seu cartão, que você reconhece sempre em qualquer lugar do mundo. As três mais conhecidas são Visa, Mastercard e American Express, todas internacionais, mas temos as nacionais também Hyper, Elo, etc. O trabalho da bandeira é saber a qual banco seu cartão pertence, e encaminhar para ele a transação. Todo banco que emite cartões precisa se conectar com a bandeira e é justamente por isso é possível usar um cartão de crédito na loja da Apple em Nova Iorque, na padaria da esquina ou em um café em Tóquio.

Por fim, o último passo é do banco emissor. Ele é o dono do cartão, aquele que emite o plástico e mantém a relação com o consumidor. O banco recebe a transação da bandeira, verifica se aquele cartão é válido e se tem limite de crédito suficiente para aquela compra, sendo o responsável em grande parte pelas aprovações ou negativas de pagamento.

Eu disse no post sobre chargeback que o Banco é o responsável pelo cliente, enquanto o adquirente é o responsável pelo estabelecimento; a bandeira no entanto tem o papel de permitir que seu cartão seja aceito em milhões de empresas em todo mundo, ele regula o mercado e cria padrões de aceitação.

Depois de tudo isso a transação, já aprovada ou negada, faz o caminho de volta: banco, bandeira, adquirente, maquininha, informando à todos se a transação foi aprovada ou não.

Uma curiosidade sobre os POS’s (aquelas máquinas onde a senha é digitada na autorização de compra): você sabia que elas são quase como tanques blindados? Elas são produzidas com diversas tecnologias de segurança que tornam o sistema extremamente difícil de ser fraudado. Se alguém tentar manipular essa blindagem, abrindo a máquina ou tentando ver o que tem debaixo dos números do teclado, a máquina simplesmente é destruída, existem circuitos de segurança que, quando manipulados de forma indevida simplesmente se quebram e a máquina para de funcionar.

Ninguém faz tudo isto de graça, claro. Cada ponto da cadeia fica um pedaço da taxa que é cobrada do estabelecimento comercial, que tem o nome técnico de MDR ou simplesmente taxa do cartão. O Brasil está processando algo como R$ 1 trilhão em transações por ano, sendo que 70% delas são do tipo crédito.

Quando você pensa que o número do cartão faz essa volta toda em poucos segundos, repetidamente por quase 10 bilhões de vezes ao ano somente no Brasil, pode ver que a cadeia de pagamentos é um sistema global e muito robusto. Da próxima vez que vender com cartão, conte o tempo que a autorização leva. Se demorar muito, é provável que seja o 3G da maquinha, e não o sistema de processamento.